Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 15, 2005

CLÓVIS ROSSI Projeto, busca-se

FSP
 SÃO PAULO - Troque-se apenas a geografia, e vai-se encontrar no texto do sociólogo Frank Furedi (Universidade de Kent) sobre as chamas de Paris, publicado domingo por esta Folha, um raio-X perfeito também da crise brasileira, se alguém se animar a olhar além da lama nossa de cada dia.
Escreveu Furedi: "Pela primeira vez na era moderna, as elites políticas européias estão destituídas de projeto. Elas não têm mais uma missão a cumprir. Não têm uma visão definida que possa moldar sua políticas e suas ações no cotidiano".
Vale à perfeição para o Brasil. Pode-se datar a inexistência de missão a cumprir de acordo com o gosto ou simpatia político-ideológica de cada qual, mas negá-la seria bancar o avestruz.
Na Europa, sempre segundo Furedi, a mais recente "missão" foi o processo de integração e construção da União Européia, que ele minimiza como mero "projeto gerencial elitista" incapaz de "inspirar a população", do que daria prova a rejeição da Constituição européia nos plebiscitos na França e na Holanda.
Acho que é simplificar as causas do "não", mas, para ficar apenas no paralelo com o Brasil, a "última missão" das elites foi acabar com a superinflação e privatizar as estatais. Aplaudido ou vaiado, esse tipo de missão é claramente insuficiente para compor um projeto de país.
Afinal, voltando a Furedi, não respondem às "questões fundamentais impostas por nossos tempos: Qual é o objetivo da política? Quem somos, como sociedade? O que define nossa condição humana?".
Como a elite não tem respostas para essas perguntas e fica apenas numa torpe batalha para saber quem delinqüe mais ou menos, são naturais a perplexidade e o desencanto que permeiam as manifestações daqueles que esperam liderança e o apontar de rumos.
A diferença: lá, queimam carros; aqui, matam e morrem em batalhas sem pena nem glória.

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