Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 16, 2005

CLÓVIS ROSSI As três cabeças

FSP
SÃO PAULO - Janeiro de 2003, primeiros dias do governo Lula: trombo com Henrique de Campos Meirelles em Davos, a cidadezinha suíça que abriga todos os anos os encontros do Fórum Econômico Mundial.
Pergunto sobre o aumento dos juros, aquele de obscenos 25% para pornográficos 26,5%, e sobre como Meirelles conseguira convencer o presidente a aceitá-lo.
Meirelles diz que relatara a Lula que, no Brasil, a inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos. Estava atingindo, logo iria disparar e o aumento era necessário.
Soa-me a cabala, não a ciência econômica. É até possível que a inflação tenha disparado sempre que atingiu os dois dígitos, mas não por atingir os dois dígitos, e sim por causas concretas, nada cabalísticas. Se se atacam as causas, não está escrito em nenhum manual de economia, nem na Constituição, nem na Bíblia que vá disparar.
Mas, se o presidente acredita em cabala e aceita decisões tomadas com base nela, fazer o quê?
Abril do mesmo 2003: Antonio Palocci, ministro da Fazenda, convida-me para jantar em Washington, durante a habitual assembléia geral de primavera (no hemisfério Norte) do Fundo Monetário Internacional, junto com seu fiel e competente assessor de imprensa, Marcelo Neto.
Boa chance para preparar um texto sobre como um ex-trotskista que gritava "fora FMI" se sente e se comporta nas entranhas do monstro. No meio do papo, pergunto se Palocci, médico sanitarista, como se sabe, entende de economia. Só as grandes linhas, responde, por ter sido membro da Comissão de Assuntos Econômicos da Câmara e prefeito de Ribeirão Preto. "Dos detalhes, não", conta com sinceridade.
São essas as três cabeças responsáveis pela política econômica ou, mais exatamente, pela absoluta ausência dela. É apenas a aplicação automática de manualzinho básico. Que diferença faz quem é o ministro da Fazenda, francamente falando?

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