Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, abril 21, 2005
Villas Boas Correa:Governo recua para a defensiva
Como ninguém cai na defensiva por opção tática, mas por necessidade de se defender da agressividade do adversário, o nítido recuo do governo, arrastando o PT como cauda presa ao dono, para a linha de resistência é o recibo passado a contragosto no resultado das trapalhadas, da desorganização, na barafunda e na ineficiência administrativa de dois anos e três meses do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mudou o tom dos pronunciamentos de ministros, assessores, parlamentares do bloco governista ou nas muitas reuniões dos grupos em que se esfacela o Partido dos Trabalhadores. Nem funciona a impostação do vozerio de alguns hábeis manipuladores da oratória, como o ministro José Dirceu, virtual presidente em exercício, ou o verboso José Genoino, presidente petista candidato à reeleição. Soa em falsete, traindo as preocupações que se espalha por todos os setores da sociedade.
É evidente, entra pelos olhos, que o governo vai mal. E de mal a pior. A queda de cinco pontos percentuais no índice de avaliação do desempenho pessoal do presidente Lula, registrada pela pesquisa do CNT/Sensus confere com o murmúrio das ruas, com os ensaios de vaias nos discursos do candidato à reeleição em plena campanha. E é apenas o eco da decepção indignada de setores mais diretamente maltratados pela frustração com o descumprimento da palavra empenhada nos compromissos de campanha, a virada da casaca pelo avesso de posições históricas em áreas de tradicional fidelidade ao presidente irreconhecível.
Se a turma da engambelação palaciana quiser conferir a indignação dos que se consideram insultados pelas potocas do candidato e dos anos de oposição do PT, basta baixar os olhos da arrogância e conferir o estado de ânimo da militância na defesa do meio-ambiente. As contradições oficiais, azedadas pelas tentativas de tapar o sol com a peneira com a renovação de promessas jamais cumpridas, fermentaram o sentimento de repulsa que não poupa a frágil ministra Marina Silva, tratada como vítima que abaixou a cabeça e perdeu a hora sair para salvar a sua biografia.
Zonzo no tiroteio por ele iniciado, o governo ronda o ridículo na falácia de solenidade patusca das reiteradas afirmações de que só cuidará da reeleição em 2006. Este é ano da retomada do desenvolvimento, da aceleração dos programas sociais, da multiplicação bíblica da distribuição das cestas básicas e, em recado para o voto nordestino, da perenização dos rios que viram praia nas secas com o milagre da transposição das águas do Rio São Francisco.
Nem uma coisa nem outra. Não há uma grande obra em andamento, um único dos 35 ministérios e secretarias do monstrengo obeso que tenha o que apresentar para calar os descrentes.
Ora, governo quando murcha para a defensiva embarafusta pela vereda da perdição. Por enquanto, mesmo com o tropicão dos 66,1% para 60,1% da aprovação de Lula, a aposta governista na reeleição sustenta-se no carisma pessoal do presidente e na sua relação direta com o povão. E mais o tempero da fragilidade do buquê dos potenciais candidatos adversários.
Convêm não esquecer que com o horário eleitoral gratuito e as burlas e truques dos marqueteiros, a campanha cria um candidato num piscar de olhos. A polarização faz o resto.
Quem aposta que o eleitor é trouxa acaba descobrindo que o bocó e ele.
O sorridente, bem-humorado presidente Juscelino Kubitschek deixou a lição do sortilégio do otimismo. Nenhum presidente começou o mandato mais ferozmente atacado pela oposição. E oposição da UDN, de Carlos Lacerda. Mais os focos de rebeldia militar de Aragarças e Jacarécanga. JK chegou ao fim do mandato com alta popularidade, embalado pelo sonho da volta em 65 porque calou a oposição mantendo a ofensiva com a realização de obras, que garantiram a sua reabilitação o lugar na posteridade.
Irritação, desculpas, justificativas de governo encolhido, acuado pela cobrança da sociedade cavam o buraco em que acabará soterrado. Lamúrias, queixas, a postura de vítima de injustiças, de incompreendido nas suas boas intenções é pura parolagem de quem não tem nada concreto para mostrar.
Pois se até nos quase 21 anos de ditadura militar no rodízio dos cinco generais-presidente e mais uma Junta Militar de contra-peso, os mais sabidos, com a ajuda da censura, do Congresso de cócoras conseguiram razoável popularidade, graças a obras de repercussão dever ser mais fácil para o torneiro mecânico eleito com 53 milhões de votos conservar o que baste para a reeleição.
Agora, é preciso arregaçar as mangas e ir à luta. Trabalhar a sério. Quem gosta de xingamento é a oposição.
JB
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