Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 21, 2005

OUTRA DECEPÇÃO



Provoca desalento a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de prosseguir com o processo de elevação da taxa de juros básica da economia. Esperava-se desta vez ao menos a manutenção da taxa. A nova elevação tenderá a agravar as distorções que o nível extraordinariamente alto da taxa Selic vem criando.
Entre tais distorções se destaca a tendência de valorização do real. Elevada a 19,5% ao ano, a taxa Selic se tornou ainda mais discrepante dos padrões internacionais. Por isso, ela deve acentuar ainda mais a atração de capitais voláteis e manter a cotação do dólar sob pressão de baixa.
Embora o desempenho das exportações prossiga firme, cresce o receio de que mais à frente a valorização do real crie dificuldades para a sustentação do seu dinamismo. A nova elevação de juros poderá aumentar a pressão de valorização do real, reforçando o receio de problemas futuros.
Interessa agora discutir os próximos passos da política de juros. A expectativa preponderante de que a escalada da taxa seria interrompida se fundava na avaliação de que, discretamente, o BC deixava de lado o objetivo demasiado ambicioso de limitar a 5,1% a alta do IPCA -o índice que baliza a política de metas de inflação- ao longo de 2005.
Era essa a razão principal pela qual muitos esperavam que se optasse pela interrupção da elevação de juros, mesmo num contexto em que bancos e consultorias vêm revendo para cima suas projeções para a inflação do ano corrente, que ora se situam, em média, pouco além de 6%.
A surpresa de ontem ampliou as dúvidas a respeito das intenções da autoridade monetária. De acordo com o próprio BC, o modelo de projeção de inflação por ele empregado indica que, mantida a taxa de juros no nível atual, a alta de preços em 2006 tenderia a ficar bem abaixo da meta de 4,5%. Existe, portanto, margem para reduzir os juros -que ela seja aproveitada o quanto antes.
Folha de S.Paulo - Editoriais

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