Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 03, 2005

O GLOBO Miriam Leitão :Consumo do Brasil



Um ministro outro dia me disse que o Brasil tem um mercado interno pequeno. Discordei e fui ver os dados. O Brasil é o segundo maior mercado da Telefônica de Espanha, o segundo da Fiat, o terceiro da Volkswagen, também terceiro da Coca-Cola e da Avon e o segundo da Nestlé. O consumo das famílias é um mercado de quase R$ 1 trilhão. Um consumo forte, relevante no mundo e que está em plena expansão.
Os rankings da economia nos colocam agora como o 12 PIB mundial. Dá saudade do tempo que éramos o 8. Em parte, essa conta contém uma arbitrariedade cambial. O câmbio sobrevalorizado dá uma falsa impressão de força. Olhando o volume de vendas, o país é um dos maiores do mundo.


Para a Fiat, é o segundo maior mercado. Logo depois da Itália. Dos 2,5 milhões de carros vendidos pela Fiat em todo o mundo, 500 mil são comprados por brasileiros; 30% de todas as vendas da empresa fora da Europa. Neste fim de semana, o presidente da Fiat Brasil, está indo para a Itália para mais uma etapa da discussão interna na empresa sobre o local de novos investimentos. O Brasil disputa com a Turquia e a Polônia a localização da fabricação dos novos modelos. A Fiat está investindo R$ 1,5 bilhão em três anos, mas pode ser mais se uma dessas novas fábricas vier para o país.

— O argumento a nosso favor é o tamanho do mercado interno e o ritmo de crescimento: no ano passado, cresceu 8%; no primeiro trimestre, 5% e a gente tem expectativa de chegar a 8%. No mundo, o Brasil é o quarto maior mercado consumidor de carros compactos — contou Marco Antonio Lage, assessor de imprensa da empresa.

Em 2003, o Brasil foi o 10mercado mundial de carros e é possível que tenha superado o Canadá. Em 2004, os brasileiros compraram 200 mil carros a mais em relação ao ano anterior; um total de 1,6 milhão. O Brasil é grande, mas tem muito a crescer. Nos Estados Unidos, é um carro por habitante; na Europa, um carro para cada dois habitantes. No México e na Argentina, um carro para cinco habitantes e, no Brasil, um para oito.

No ano passado houve um boom de celulares. As vendas cresceram 50%. O setor acha que este ano pode crescer outros 20% a 30%. Para a Siemens, o mercado brasileiro é fundamental.

— O Brasil é o terceiro país entre os que mais compram celulares da Siemens, vindo depois da Alemanha e da Espanha — diz Humberto Cagno, diretor de telecomunicações da empresa. Este ano, a Siemens vai investir US$ 230 milhões no país.

Os brasileiros são o terceiro maior consumidor de Coca-Cola do mundo, perdendo apenas para o México e para os Estados Unidos. O faturamento da Coca-Cola no Brasil foi de R$ 7,4 bilhões no ano passado. O consumo cresceu 7% aqui, mais do que o dobro dos Estados Unidos.

— Nossa filosofia é investir nos BRICs (os países emergentes mais fortes: Brasil, Rússia, Índia e China). O consumo anual per capita é de 146 copos aqui contra 487 no México e 436 nos Estados Unidos. Temos espaço para crescer — diz Maurício Bacellar, gerente de comunicação da empresa.

Pelos dados do Euromonitor, o Brasil é o 7 maior mercado do mundo no setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. É o 4 em produtos infantis, o 5 em perfumaria e desodorantes e o 6 em produtos para cabelos. Com o aumento da presença da mulher no mercado de trabalho e o aumento da expectativa de vida, as vendas do setor estão disparando. Cresceram 48,5% de 2000 a 2004. A Avon está há 46 anos no Brasil; o país é o terceiro maior mercado depois dos Estados Unidos e do México. Em alguns produtos, o Brasil é campeão: foi o país onde o produto anti-sinais Renew Clinical mais vendeu. Só no lançamento, foram 2,7 milhões de unidades.

Na Nestlé, há oito anos, o Brasil assumiu o segundo lugar em volume de vendas e lá ficou. Perde apenas para os Estados Unidos.

— No Brasil, produzimos e vendemos 400 itens básicos, poucas Nestlés no mundo têm um portfólio tão amplo. O sucesso do mercado brasileiro como bom comprador dos nossos produtos está ligado ao tempo em que estamos no país e ao fato de que alguns produtos nossos viraram parte da culinária brasileira. Observamos através das campanhas publicitárias que estamos em 94% dos lares brasileiros — conta Carlos Faccina, diretor de assuntos corporativos.

Mesmo assim, não é um mercado saturado.

— Aqui o consumo de chocolate não chega a um quilo per capita/ano. Na Argentina, é de quatro quilos. Sorvete é outro exemplo: brasileiro só toma sorvete no verão — diz Faccina.

Qualquer que seja o setor, o Brasil tem números assim, que mostram que ele é grande, mas com espaço para ampliar o consumo. A estabilização da moeda ajudou a elevar o patamar de vendas de inúmeros produtos. A recuperação da renda e a inclusão social podem ampliar esse mercado ainda mais.

CRITICADO no Brasil, mas reconhecido no exterior, o sistema de licenciamento ambiental. Nilvo Luiz da Silva, responsável pela área no governo, foi convidado para trabalhar na divisão de políticas públicas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

A L’ORÉAL faz anualmente uma disputa internacional entre estudantes de MBA, um jogo de estratégia em que 40 mil alunos disputam as melhores soluções. O curso da Coppead já ganhou quatro vezes na América Latina e agora ganhou a disputa mundial, em Paris.

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