Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 01, 2005

O Globo - Luiz Garcia:Sofrimento em Roma

É com certeza falta de respeito — inclusive com a realidade, neste dia em que escrevo — já falar de João Paulo II com verbos no passado. Mas pode-se admitir que o seu papado está, segundo todos os sinais, praticamente terminado.


O melhor que se pode desejar ao Papa é descanso, a reconciliação, dele, da Igreja e dos fiéis, com o fato de que a missão está próxima do fim.

As ovelhas, com certeza, preferem não ver o seu pastor, em visível angústia, tentar sem conseguir completar o gesto simples de uma bênção.

Este certamente é o Papa que mais foi ao encontro de seu rebanho, fisicamente, em toda a História. É aborrecido citar números, mas impressionam: perto de 18 milhões de peregrinos recebidos nas audiências coletivas semanais, quase 40 visitas a outros países, 738 encontros com chefes de Estado e 246 com primeiros-ministros.

Os anos de João Paulo II em Roma não tiveram, do ponto de vista da doutrina, o caráter revolucionário do tempo de João XXIII e do Concílio Vaticano II. Se uma definição fosse obrigatória, ele seria rotulado como conservador — quanto aos costumes e quanto à fé. Mas cheio de ardor revolucionário na defesa da paz no mundo e na denúncia da hipocrisia de potências e potentados.

Já no que se refere ao entusiasmo e à energia com que se dedicava a executar o seu pastoreio, parece que nada se viu parecido; pelo menos, pela minha geração, que nasceu sob o ar aristocrático e os olhos distantes de Pio XII.

Até este momento, mais do que gafe, é ofensa grave aos olhos do Vaticano falar na morte do Papa. Mas mesmo os leigos sabem que, para um homem de sua idade e de sua saúde fraca, o fim está se aproximando.

Vem de longe o declínio na saúde de João Paulo II. Data do atentado de maio de 1981, quando um jovem turco tentou matá-lo a tiros. Mehmet Ali Agca já saiu da cadeia, o Papa já o perdoou em pessoa, mas as seqüelas ficaram — e prosperaram.

Até o rápido declínio dos últimos dias. Que quase coincidiu com a semana em que os católicos mais uma vez lembraram o sofrimento, a morte e a ressurreição de Cristo.

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