Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 12, 2005

NOVA CARTILHA DO PT


O documento divulgado no fim de semana na reunião do chamado Campo Majoritário -ala tida como moderada que hoje tem a maioria interna do PT- representa, em primeiro lugar, uma adequação formal do partido às grandes linhas de atuação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O texto contém ainda um recado interno aos descontentes e tendências mais à esquerda do petismo, bem como uma sinalização do que se poderá esperar -ou não- de um eventual segundo mandato de Lula.
São pelo menos três, portanto, as preocupações que parecem nortear o documento: o "aggiornamento" do partido à política oficial, o adeus do PT à retórica das viúvas do socialismo e, por fim, a tentativa de pavimentar o caminho da reeleição.
Intitulado "Bases para um Projeto para o Brasil", o texto, cujos termos foram negociados entre os ministros Antonio Palocci e José Dirceu, diz a certa altura que o PT "não parou no tempo, não tem medo de mudar nem de reconhecer seus erros".
Faz ainda uma defesa enfática do controle das contas públicas e do equilíbrio fiscal, além de incorporar um jargão até há pouco estranho ao partido -por exemplo, quando diz que um dos deveres do Estado é a garantia da "boa governança", conceito geralmente associado à Terceira Via e, entre nós, identificado à política da era Fernando Henrique Cardoso.
Chama a atenção a distância que separa este texto e o último grande documento programático do PT, aprovado no final de 2001. Intitulado "A Ruptura Necessária", pregava então mudança brusca do modelo econômico, imprudência felizmente descartada pelo atual governo.
A guinada do PT, como se sabe, ocorreu na "Carta ao Povo Brasileiro", que veio à luz no curso da campanha de 2002. Os compromissos assumidos por Lula na ocasião discrepavam muito do que dizia até então o próprio PT, o que motivou uma justificada desconfiança. Apesar dos exemplos recentes de amadurecimento do PT na condução da economia, algo daquela desconfiança ainda remanesce. E é bom que assim seja. Ainda é necessário perguntar se o partido do poder trocou de pele por convicção ou só por oportunismo.
Folha de S.Pa
ulo - Editoriais- 12/04/2005

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