Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 13, 2005

: MANOBRA MEXICANA

Julgando-se sem força para derrotar o rival nas urnas, os dois principais partidos políticos mexicanos recorreram à chicana para tirar o prefeito da Cidade do México, Andrés Manuel López Obrador, da disputa pela sucessão presidencial, prevista para meados do próximo ano.
Está em curso contra o prefeito um processo de impeachment que, se avançar um pouco mais, o impedirá de participar do pleito presidencial. O Congresso já suspendeu a imunidade de López e ele pode ser preso a qualquer momento agora. A legislação eleitoral mexicana não observa o princípio da presunção da inocência. Se ele for indiciado, o que também pode ocorrer a qualquer instante, perderá seus direitos políticos e dificilmente conseguirá reavê-los em tempo hábil para concorrer à sucessão do presidente Vicente Fox.
A acusação que pesa contra López é um delito que raramente resulta em conseqüências legais naquele país: ter desobedecido a uma ordem judicial que determinava a suspensão das obras de uma estrada em terras sob disputa. A verdadeira razão da manobra urdida pelo PAN, partido de Fox, e pelo PRI, que tem a maior bancada no Congresso, é que López vinha havia tempos aparecendo sistematicamente em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com mais pontos do que a soma de seus adversários do PAN e do PRI.
López pertence ao PRD, um partido de centro-esquerda, e conquistou grande popularidade entre eleitores pobres graças aos programas sociais que vem aplicando na capital. Ligeiramente populista e bastante carismático, o prefeito mobiliza as massas em seu favor. Cerca de 80% dos mexicanos se opõem à manobra para derrubar López fora das urnas.
O golpe representa uma ameaça contra a ainda frágil democracia mexicana, que não chegou a completar seis anos de vida. Antes da eleição de Fox em 2000, o México vivia, na prática, sob um regime de partido único -o PRI, que dominou o Estado por 71 anos. Cabe aos mexicanos, e não a um juiz ou aos partidos, decidir quem será o próximo presidente.
Folha de S.Paulo - Editoriai

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