Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 13, 2005

FRUSTRAÇÃO NA ÁFRICA



Não se deve negar a existência de aspectos positivos nem o êxito, no nível simbólico, do périplo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela África, continente com o qual o país tem dívidas históricas. Esse sucesso relativo não obscurece, porém, o fiasco nas negociações com a Nigéria, que visavam a diminuir o déficit comercial brasileiro com aquele país. Em 2005, esse saldo negativo deverá chegar a US$ 5 bilhões.
As conversações terminaram quase na estaca zero. Contribuíram para isso algumas circunstâncias constrangedoras, que indicam certa incapacidade, ou mesmo má vontade do governo nigeriano. Foi significativo, por exemplo, que o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, responsável pelas negociações, tenha sido recebido por um funcionário do ministério nigeriano, e não pelo titular da pasta correspondente.
Todavia a responsabilidade pelo insucesso da missão deve ser compartilhada, em larga medida, por Furlan, pela diplomacia brasileira e pelos organizadores brasileiros da visita. É incompreensível, por exemplo, que a comitiva presidencial tenha conseguido levar ao país apenas alguns poucos empresários.
Pior. Chega a ser risível que, devido a falhas do corpo diplomático brasileiro, o ministro tenha comparecido ao encontro sem ter conhecimento da extensa lista de restrições comerciais e tributárias impostas pela Nigéria a produtos brasileiros. Uma grande quantidade de itens que o governo pretendia comercializar para reduzir o déficit nem mesmo tiveram a chance de entrar em pauta.
Nessa sucessão de equívocos, o governo federal -tão eficiente em angariar o apoio das nações africanas para a candidatura brasileira a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU- perde uma valiosa oportunidade de firmar uma parceria vantajosa com um dos mais importantes países da África.

Folha de S.Paulo - Editoriais 13/04/2005

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