Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 20, 2005

Luís Nassif: A economia criativa e o Brasil

Na reunião da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), no ano passado, em São Paulo, surgiu a idéia da criação de um CIIC (Centro Internacional de Indústrias Criativas). A intenção seria a de discutir os novos modelos de cultura digital e pensar em ferramentas capazes de transformar a cultura popular dos países emergentes em economia geradora de empregos e distribuidora de renda.
Nesta semana, em Salvador, foi organizado pelo Ministério da Cultura o primeiro seminário visando dar corpo à proposta. Contou com a presença de representantes de dezenas de países, de especialistas de peso e de organismos internacionais -como a Unctad, o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe)- visando criar um plano de ação para deixar o centro em pé até o próximo ano.
Conforme o representante do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a partir dos anos 90, seis empresas passaram a dominar 90% do mercado de música mundial. Os Estados Unidos, a Inglaterra, a Alemanha e o Japão respondem por 60% das exportações e 50% das importações de bens culturais no mundo.
Com o advento da internet, esse predomínio reduzirá. A internet permite contornar o problema da distribuição. Mas não basta. Ficou clara, no encontro, a necessidade de esse centro ser includente, multinacional, permitir a troca de experiências, a criação de indicadores, em um momento em que as patentes e a propriedade intelectual ameaçam engessar todo o processo criativo mundial.
Na Inglaterra, existem fundos e organizações incumbidos de apoiar produtores culturais iniciantes -dentro do mesmo princípio das incubadoras de empresas para empreendimentos de base tecnológica.
O estágio atual de economias emergentes, mesmo das mais avançadas como o Brasil, ainda não permite o aparecimento desse tipo de emprendedorismo mais profissional. Ao mesmo tempo em que defendiam a necessidade de políticas públicas de apoio a esses empreendimentos criativos, reconheciam sua importância como agente fomentador de empregos e distribuidor de renda, ficava claro que não há mais espaço para modelos paternalistas, como os do passado.
Aliás, esse estágio atual da internet e da convergência nas comunicações traz à tona uma competência pouco desenvolvida entre nós, emergentes, mesmo entre europeus e asiáticos, e que é o grande diferencial dos Estados Unidos: a capacidade de modelar negócios.
A tecnologia já está suficientemente domada para que qualquer grupo de classe média, em qualquer parte do globo, possa entrar no jogo. Fenômenos como o KaZaA e o ICQ floresceram fora dos EUA.
Mas a ciência de entender os mecanismos de irradiação da net, de criar grupos de interesse, tem que estar acoplada a modelos de negócios que a rentabilizem. É evidente que a superabundância de recursos nos EUA facilita o jogo. De qualquer modo, definir um modelo de negócio competitivo será a chave para transformar a riqueza cultural dos países emergentes em riqueza econômica.
Folha de S.Paulo

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