Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 14, 2005

Luís Nassif: A aventura do século


Com a perda do controle da CVC Opportunity e de todas as empresas controladas, incluindo a Brasil Telecom, e com o indiciamento pela Polícia Federal, chega ao final a odisséia de Daniel Dantas, a mais atrevida aventura empresarial do Brasil moderno e o exemplo mais flagrante de como um falso conceito de internacionalização desarmou as instituições e o aparato regulatório do Estado brasileiro.
Dantas é filho direto da geração de economistas latino-americanos que vai para os Estados Unidos nos anos 80, no rastro dos "Chicago's Boys" -embora não tenha se formado em Chicago. Lá, entram em contato com as duas idéias básicas que comandariam os negócios mundiais nos anos seguintes. A primeira, a internacionalização do capital e as novas modalidades de ferramentas financeiras. A segunda, o novo ambiente regulatório das diversas economias, em torno das liberações trazidas pelo neoliberalismo.
Ainda no começo dos anos 80, a primeira experiência atrevida se deu no Chile de Pinochet. Jovens Chicago's Boys assumem o comando da economia, dão início a um processo violento de privatização em cima da alavancagem em fundos externos. São os "pirañas financeiras". A carreira do mai atrevido foi interrompida por Pinochet, que ordenou a prisão do "piraña-mor" que lograra assumir o controle do maior banco público privatizado e o quebrara.
No final dos anos 80, ainda no governo Sarney, Dantas, em conjunto com o Citigroup, participa de um processo de privatização branca da Telebrás. Adquirem ações da estatal por US$ 1, para um valor de mercado de 20 a 30 vezes maior. É uma operação que permite lucro de algumas centenas de milhões de dólares ao Citi e que cimentaria as relações entre ele e Dantas.
Sua estratégia básica foi montada em cima da cooptação de três grupos de pessoas. Na área internacional, grupos internos de funcionários do Citigroup. Na área financeira interna, com dirigentes de fundos de pensão estatais. Na área política, com o PFL e, depois, com economistas ligados ao Plano Real. Em cima desse trunfo, conseguiu atrair grandes grupos internacionais como sócio. E manobrou de tal maneira que assumiu o controle de todas as operações, mesmo sendo apenas o gestor dos recursos.
O jogo começou virar alguns anos atrás, quando explodiram os escândalos corporativos nos Estados Unidos -atingindo o próprio Citigroup. Por aqui, mudança de governo e de comando dos fundos de pensão.
Cada vez mais enredado em um jogo de xadrez impossível, contra diversos adversários de peso simultaneamente, Dantas cometeu o erro fatal. Uma disputa irrelevante, com um ex-sócio, Luiz Roberto Demarco, resultou em uma derrota jurídica -em um tribunal inglês. Derrota pequena, mas insuportável para quem ambicionava conquistar o país. A conseqüência foi a contratação de uma empresa de uma espionagem, depois, de mais outra. E aí ultrapassou a linha estreita que separa os negócios agressivos da ilegalidade.

Folha de S.Paulo

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