Folha de S.Paulo - Editoriais: SINAIS DE ALERTA - 07/04/2005

Foram divulgados nos últimos dias indicadores que despertam preocupações em relação ao comportamento e às perspectivas da atividade econômica no país. A Pesquisa Mensal da Indústria, realizada pelo IBGE, apurou que, em fevereiro, a produção fabril sofreu uma queda de 1,2% sobre janeiro, já descontadas, nessa comparação, as influências sazonais. Foi um resultado decepcionante, pois as previsões dos analistas oscilavam entre a estabilidade e uma alta de até 1%.
Houve, é verdade, um fator pontual que prejudicou o resultado. Em fevereiro ocorreram paralisações (para fins de manutenção, sobretudo) em algumas plantas do setor de refino, petróleo e álcool, que responde por aproximadamente 8% do total da produção da indústria. Todavia, mesmo descontando esse fator, o desempenho fabril em fevereiro continuaria negativo. O recuo ocorreu em todos as grandes categorias: bens de capital, intermediários e de consumo. A exceção coube ao segmento de bens duráveis.
É cedo para afirmar que essa perda de dinamismo caracteriza uma inflexão da atividade industrial. Outros indicadores sugerem um quadro mais positivo. É o caso, por exemplo, das horas trabalhadas na indústria de transformação, que, segundo levantamento realizado pela CNI, aumentaram quase 1% no mesmo mês.
Um dado que reforçou as apreensões foi a piora das expectativas dos consumidores, apurada pela Fundação Getúlio Vargas em março, pelo segundo mês consecutivo. Segundo a sondagem, a proporção dos que esperam mais dificuldade para obter emprego nos próximos meses superou amplamente a daqueles que prevêem mais facilidade. Também voltou a cair a quantidade dos que se dizem dispostos a adquirir bens de alto valor, chegando ao nível mais baixo desde que a pesquisa teve início, em outubro de 2002.
São sinais relevantes, que precisariam ser levados em conta nas próximas decisões da equipe econômica, em particular no que concerne à fixação da taxa básica de juros.