Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 13, 2005

Clóvis Rossi: De "Belíndia" a "Beláfrica"


ROMA - Lembra-se de "Belíndia", a expressão criada por Edmar Bacha para designar um Brasil que era uma pequena Bélgica rica cercada por uma porção de Índias pobres?
Pois é: a Índia continua na praça, agora em um novo neologismo (com perdão da redundância, professor Pasquale), que é "Cindia", cunhada pelo jornal italiano "Le Repubblica", para designar a "parceria estratégica" que a China (Cina, em italiano) e a Índia começaram a construir a partir da visita do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao à Índia.
Juntos, os dois países representam impressionantes 40% da população mundial e vêm mantendo crescimento econômico que torna pálido, desmaiado, o número alcançado no ano passado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
"Por essa combinação entre dinamismo econômico econômico e peso demográfico, exercitam uma pressão dramática sobre todos os recursos do planeta, consumindo de tudo cada vez mais, do petróleo ao ar que respiramos", escreve "La Repubblica".
É verdade que nem a Índia nem a China conseguiram içar todos os seus pobres a condições de vida dignas, ainda que os chineses tenham feito progressos impressionantes também nesse capítulo. Mesmo assim, o fato é que cada um desses países se tornou ator de peso universal. Juntos, então, nem se fala.
O Brasil, ao contrário, melhora tão lentamente, cresce tão pouco (na comparação seja com a média dos países ditos emergentes, seja em relação à China) e reduz a pobreza tão a conta-gotas, que continua sendo a "Belíndia", cada vez mais, aliás.
A rigor, o rótulo tupiniquim bem que deveria mudar para "Beláfrica", para usar a região em que está concentrada a mais nefanda pobreza.
Pior: o governo do PT, o partido que era o mais indignado com a condição de "Belíndia", agora festeja o medíocre fato de não ter piorado ainda mais.

Folha de S.Paulo 13/04/2005

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