Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, abril 01, 2005
no mínimo | Villas-Bôas Corrêa :Milagre encomendado
01.04.2005 | O presidente Lula, na dupla investida para salvar o seu primeiro mandato do fiasco que se desenha em nítidos contornos e fortalecer as possibilidades da sonhada reeleição em 2006, resolveu apostar as fichas que sobraram do seu cacife na transposição das águas do degradado Rio São Francisco para irrigar o Nordeste, com a perenização da rede fluvial que seca nas cíclicas estiagens.
Nos programas de propaganda do PT, em sucessivas abordagens na enxurrada de seus improvisos, Lula repisou o juramento de resgatar o compromisso de campanha e costuma desfiar a sua história de menino nascido na aridez do interior de Pernambuco, com a lembrança das provações em mais de um ano de seca.
Trata-se de palavra empenhada e que não volta atrás. Mas, da centenária polêmica sobre a viabilidade da obra monumental e da segurança dos seus resultados práticos, salta a evidência de que o alvo em que o presidente mira é o de safar-se e ao seu governo das muitas trapalhadas e crises com uma obra de repercussão nacional e que arrastaria milhões de votos da gratidão de nordestinos, maltratados pela praga cíclica de meses de sol inclemente com os poços secos e as longas caminhadas de léguas até a fonte que anuncia o seu esgotamento.
No meu distante aprendizado, jamais concluído em 57 anos de militância como repórter político, percorri milhares de quilômetros, na companhia dos então jovens deputados Armando Falcão e o saudoso Breno Silveira, de três colegas e um fotógrafo, o roteiro da dramática seca de 1951. A memória retém os flagrantes e os testemunhos, registrados em dezenas de reportagens, com as fotos irretocáveis de Achilles Camacho, uma saudade entre tantas de uma longa vida.
Não tenho razões para duvidar da sinceridade do presidente, sem desconhecer as motivações políticas e a súbita urgência depois de dois anos e três meses de mandato, quando pouco se falou e nada se fez para tocar o projeto que rolou pelo descaso da burocracia.
Nem posso omitir a desconfiança quanto ao êxito do mutirão, no corre-corre de um ano e nove meses de um governo sem consistência, a arrastar as banhas de obeso dos seus 35 ministros e secretários e sem um único exemplo de incontestável sucesso. Pois se não conseguiu tapar os buracos e remendar as pontes da malha rodoviária em petição de miséria, quais são as suas credenciais para surpreender o distinto público, com a mágica repetida no desfile de ditaduras e governos democráticos?
A lógica aconselha o presidente Lula a tentar arrumar o governo que virou uma bagunça. O Congresso à matroca ensaia tímida reação para estancar a sua desmoralização a níveis jamais igualados, prenúncio de crise institucional. A eleição do deputado Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara não é a causa, mas a conseqüência de anos de mordomias, vantagens e oficialização da indolência com a semana de dois a três dias úteis.
Na tática do desespero de espalhar o pó ligando o ventilador, o guru do baixo-clero cutucou os procuradores, advertindo-os que deveriam começar por olhar para a própria cauda. E agora anuncia que está concluindo a relação da parentalha dos coleguinhas credenciados para a cobertura da Câmara e do Senado e que constam da folha de pagamento em que abriga os seus agraciados.
Pois que venha a público a esperada lista para a imediata reação dos órgãos de classe, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) aos emudecidos sindicatos e dos que se destacam pela defesa da censura à imprensa. A faxina deve começar com a varredura da casa.
O amuo do ex-todo poderoso José Dirceu, que se sentiu desconsiderado com o recuo de Lula na reforma ministerial, a seu pedido por ele articulada durante cinco meses, é um prego a mais na coleção de sapatos presidenciais.
Não há um minuto a perder: preces, velas e despachos reforçam o apelo ao velho Chico para que realize o milagre de irrigar o Nordeste.
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