O trator Kassab Gilberto Kassab cresce em São Paulo, fica a um
O atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do DEM, foi o político mais votado do Brasil no primeiro turno das eleições municipais. Com uma montanha de votos – 2 140 423, para ser exato –, ele deixou para trás a ex-prefeita Marta Suplicy, do PT, que aparecia na frente em todas as pesquisas, e chegou à reta final do primeiro turno na posição de líder. A vantagem do democrata sobre a petista, de 0,8 ponto porcentual, foi pequena, mas premonitória. Quatro dias depois da abertura das urnas, o Datafolha aferiu que Kassab ostentava uma dianteira confortável: 54% das intenções de voto no segundo turno, contra 37% de Marta. Agora, caminha a passos largos, larguíssimos, para ser reeleito no próximo dia 26. Seu desempenho prova que, embora desconhecido, Kassab nunca foi um azarão. Mesmo antes de o horário político começar, quando ainda aparecia na rabeira das pesquisas, ele já reunia condições para atrair eleitores. Afinal de contas, sua administração é aprovada por 61% dos eleitores, um dos índices mais altos do país, e sua imagem está associada à do governador José Serra, do PSDB, o principal líder político do estado hoje. Junte-se a isso uma estratégia de propaganda matadora – e eis que Kassab se transformou num trator pronto para terraplenar o PT em São Paulo. No início da campanha, a equipe de marketing de Kassab acertou na escolha do alvo. Com o maior tempo disponível no rádio e na TV, o democrata ignorou o candidato tucano, Geraldo Alckmin, segundo colocado nas pesquisas. Dirigiu seus ataques (civilizados) a Marta, a primeira colocada. A petista engoliu a isca e passou a contra-atacar (não tão civilizadamente). Foi o suficiente para que Kassab tirasse de Alckmin a condição de candidato anti-PT. Fora de foco, o tucano perdeu primeiro os holofotes. Depois, os votos. A equipe de Kassab reviu sua estratégia para o segundo turno. Abandonará os ataques a Marta e à sua gestão na prefeitura, de 2001 a 2004. A intenção é ignorar completamente a petista. Se possível, deixá-la falando sozinha. Com isso, pretende passar à população a idéia de que ela está fora do páreo. Nas próximas semanas, Kassab só agradecerá os votos que recebeu e pedirá apoio para dar seguimento a seus programas sociais. Ninguém está mais interessado na vitória de Kassab – além do próprio, é claro – do que o governador Serra. Os dois se conheceram há apenas quatro anos, durante a eleição municipal de 2004. No início, Serra tinha restrições a Kassab, indicado pelo DEM para seu vice. O democrata conquistou-o com demonstrações inequívocas de lealdade e de envolvimento em seu projeto presidencial. Em 2006, o tucano deixou o cargo para assumir o governo estadual. Kassab herdou a prefeitura, mas continuou a tratar Serra como chefe. Em processo de simbiose, cogitou até em mudar para o PSDB, a fim de cerrar fileiras com o governador. Serra passou a considerar que a aprovação da gestão de Kassab e sua reeleição eram pressupostos para a sua candidatura à Presidência. Por isso, não só manteve sua equipe em postos-chave da prefeitura como também ajudou a traçar o plano que poderia levar Kassab a conquistar mais um mandato. A estratégia está dando certo, mas nem Serra esperava que a popularidade de seu novo aliado aumentasse tão rapidamente. Logo que Kassab assumiu o cargo de prefeito, ele e sua equipe perceberam que a reeleição dependeria de uma boa aprovação não só na área central, mas também na periferia paulistana, que concentra 40% dos votos da cidade e tradicionalmente dava sustentação ao PT. Para isso, era necessário fazer um programa de obras nessa região e reforçar aquelas que Marta Suplicy havia começado. Assim como o PT se apropriou de bandeiras do ex-presidente Fernando Henrique no governo federal, como o Bolsa Escola e a estabilidade da moeda, Kassab tomou para si iniciativas da gestão petista. Um exemplo disso foi o incremento na construção de CEUs, escolas multiuso, com piscina, ginásio e cinema. As obras e o discurso de cunho social evitaram que Marta nocauteasse Kassab na periferia, como antes ocorria com os candidatos tucanos. Segundo o Datafolha, a vantagem da petista nessas áreas mais pobres – as únicas onde ela está na frente – é de, no máximo, 9 pontos porcentuais.
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