02/10/2008
A construção civil e especialmente a compra da casa própria estão no coração da crise financeira americana.
Normal, portanto, que todos os indicadores desse setor estejam em queda.
Sendo a crise uma das mais graves da história recente, os efeitos na construção são pesados.
De fato, as compras de casas novas, em agosto último, caíram nada menos que 34,5% em relação ao mesmo mês do ano passado. Na mesma base de comparação, o número de permissões para novas casas — projetos aprovados — caiu ao nível mais baixo em 26 anos. A construção de novas casas, obras em andamento, é recorde de baixa em 17 anos, assim como o início de construção de residências unifamiliares.
Eis uma das principais razões pelas quais a economia americana já está crescendo menos, porque perdeu o poderoso impulso da construção civil.
Mas quando se olha o mesmo setor por outros números, surge outra imagem, a de uma economia resistente.
Num dos seus piores momentos, as famílias americanas compraram, em agosto, 39 mil casas novas, o que dá um valor anualizado de 468 mil. A construção de novas casas — obras em andamento — bateu 895 mil unidades/ ano. O início de obras de novas casas unifamiliares chegou a 630 mil, sempre em valores anualizados.
Permissões para a construção de casas e apartamentos, indicador de atividade futura, 854 mil.
Reparem de novo: a crise financeira, também chamada crise das hipotecas, explodiu em agosto do ano passado. Os preços de casas estiveram em queda, juros em alta, financiamentos restritos, inadimplência — e, mesmo assim, as famílias americanas compraram mais de 600 mil casas nesse período. O número de residências em construção esteve acima do milhão. E, finalmente, as vendas de imóveis usados estiveram acima dos 5 milhões Neste ano, o Brasil deve bater um recorde na venda da casa própria. Serão algo como 280 mil residências comercializadas no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação, financiadas, portanto, com os recursos da caderneta de poupança.
E não há ameaça de crise. O financiamento vem de recursos carimbados, com juros quase tabelados. Não há por aqui nada semelhante ao sistema das hipotecas dos EUA ou da Inglaterra e da Espanha — países que tiveram forte expansão do setor da casa própria. Nesses países, para simplificar, investidores aplicam nos fundos imobiliários, que, de sua vez, compram papéis de construtoras e financiam as hipotecas assumidas pelos compradores das residências.
Eis o ponto a demonstrar: um sistema financeiro sofisticado, agindo com bastante liberdade, levou a uma extraordinária expansão da construção de residências nos EUA, na Inglaterra e na Espanha, entregando a casa própria para milhões de famílias.
O que hoje se define como uma bolha, antes era comemorado como o boom da construção civil.
No Brasil, o sistema é todo regulamentado e limitado, não temos a expansão das hipotecas, não temos risco de crise e... não temos as casas.
A população brasileira equivale a dois terços da americana, mas aqui há um claro déficit de casas próprias. Em resumo, há espaço e há famílias demandando bem mais que 300 mil casas/ano, garante o pessoal do setor.
O que nos falta? Mais financiamento, um sistema que vá além das limitações da poupança e do FGTS.
Hoje, no Brasil, o crédito imobiliário, incluindo todas as modalidades, mal chega aos 2% do PIB. Naqueles outros países, é dez vezes mais.
Ok, deu uma crise, um excesso de investimentos alavancados. Mas, antes disso, o sistema levou a crescimento e bem-estar das famílias. Ou seja, trata-se de restabelecer o sistema financeiro, aliviar os excessos, mas não voltar a um modelo tão regulamentado quanto o brasileiro, imune a crise e imune a expansão.
Isso vale para toda a história da crise. O capitalismo financeiro, hoje o bandido, foi também o instrumento que levou capital barato a todas as partes do mundo.
No Brasil, em especial, onde é tudo regulamentado e controlado pelo Estado, precisamos de mais e não de menos sistema financeiro com boa margem de liberdade.
Entrevista:O Estado inteligente
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