Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 04, 2008

MILLÔR

Pra bom entendedor meia palavra basta (entendeu, ...ecil?)

TUDO QUE EU SEI 
DE WITTGENSTEIN
(WITT O QUE MESMO?)

Todo mundo sabe – me refiro aos que sabem – que Wittgenstein modificou fundamentalmente a filosofia. Dizem até que acabou com ela. Ué, Fukuyama não acabou com a história? Ou foi Hegel? Sei lá, perplexa leitora.

Bem, Witt, judeu, superdotado, filho do homem mais rico de Viena no tempo em que Viena era o centro do mundo, consciente de que Viena era também o centro do mundo artístico cultural. Prali convergiam todos os músicos, todas as orquestras, todos os nazismos, o que havia de melhor no terreno das artes de apresentação. Mas Wittgenstein nunca ia a nenhum desses espetáculos – os espetáculos iam à casa dele. Senão pra que serve ser filho do homem mais poderoso do pedaço?

Durante certo (pouco?) tempo freqüentou o mesmo banco escolar de Hitler, em Linz. Bem, bela leitora, eu também não acreditei na primeira vez que li isso. Mas os dois nasceram no mesmo ano. Um acabou conquistando (entre outras coisas) o país em que ambos nasceram.

Mas o que me importa nesta historinha não é Witt ter doado toda sua imensa fortuna (bem, pras irmãs, sempre se pode pedir algum de volta), e ter sido voluntário na Primeira Guerra Mundial (Hitler também foi à guerra, embora não voluntário), é que os dois austríacos vieram ao mundo pra balançar coretos. Um, todo mundo sabe, o coreto político/militar/geográfico de Churchill, Roosevelt e Stalin e o outro, nada mais nada menos do que 2000 anos de filosofia.

A briga de Wittgenstein com Kopper – outro judeu, cobra do pensamento malsão – durou apenas dez minutos mas entrou pra história. Há pouco rendeu um livro, O Tição de Wittgenstein (The poker of Wittgenstein). Ao contrário do que dizem, Wittgenstein não agrediu Popper com o tição. Só com dialética, nele muito mais perigosa.

Eu e o deputado Aldo Rebelo estamos convencidos de que hoje o estudo da lingüística não se resume a acordos ortográficos, acentos diacríticos e penetração de línguas estrangeiras em línguas desprotegidas. Quando eu e o deputado Aldo lemos, por exemplo, Chomsky e, mais ainda, Wittgenstein, ficamos convencidos de que a lingüística hoje atingiu a profundidade dos estudos de arqueologia e a altura do Acelerador de Partículas, que até agora, aqui em casa, pelo menos, não acelerou partícula nenhuma.

Mas, pra facilitar, passo agora à extraordinária nova edição doLarousse (Larousse. 1 852 págs. Capa de Niemeyer, e um extenso estudo sobre o grande arquiteto!) pra ver o que registra de Wittgenstein no assunto lingüística: "Estabelece que há uma relação biunívoca entre as palavras e as coisas". "As proposições que encadeiam as palavras constituem ‘imagens’ da realidade." "Tudo isso, está claro, dentro do atomismo lógico." Mas, ainda segundo oLarousse, Witt acabou abandonando tudo e partindo pro que denominou de Jogo da Linguagem, seu aspecto humano, ou seja, sua imprecisão e variabilidade conforme a situação (ah, descobriu!).

Mas, linda leitora, é melhor aproveitarmos o resto do espaço para um pouco do próprio filósofo.

1. Todo objeto é idêntico a si mesmo.

2. Maçã é o mesmo que maçã.

3. Ética e estética são uma e a mesma coisa.

4. Suponha agora que eu diga "Sou incapaz de estar errado quando digo: Isso é um livro", enquanto aponto para um objeto. Um erro aqui seria igual a quê? E eu tenho uma idéia clara sobre isso?

5. A estrela da manhã é a estrela da manhã.

6. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o não pedir e somente acreditar que o silêncio que se crê em você é resposta ao seu mistério. "Perdão, leitora, aqui eu me confundi. Isso é da Clarice Lispector."

7. "Se eu sei alguma coisa, então eu também sei que eu sei alguma coisa etc." equivale a: "Eu sei isso", quer dizer, "Eu sou incapaz de estar errado sobre isso". Mas para isso ser assim precisa ficar estabelecido objetivamente.

8. A é o mesmo que a letra A.

No fim, Bertrand Russell, conselheiro e mentor de Wittgenstein desde o início, ficou de saco cheio, se afastou dele. Foi o único a ler seu derradeiro texto (de dez linhas) e comentou: "Não entendi nada. Mas é genial". (Ninguém me convence de que não estava de sacanagem.)

Modestamente, termino com dois pensamentos meus mesmo.

1. Filosofia é uma coisa que discute filosofia.

2. Wittgenstein não é o mesmo que Wittgenstein.

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