NOVA YORK. Para se ter uma idéia de quanto é difícil a tarefa de John McCain de derrotar Barack Obama nas eleições de novembro, basta relembrar uma passagem do debate de quinta-feira entre os candidatos a vice. Sarah Palin acusou o programa de corte de impostos de Obama, que estava sendo defendido por Joe Biden, de ser um “exterminador de empregos”, pois penalizaria os pequenos negócios. Ontem, já de manhã, saiu o número oficial de desemprego no país, que aumentou em 159 mil pessoas em setembro último, mais do dobro do que em agosto e julho. Foi a maior perda mensal de emprego desde 2003.
Foi o bastante para que Obama batesse na tecla de que continuar com a mesma política econômica de Bush mais quatro anos seria desastroso. Previamente derrotada pelo pressentimento generalizado de que não resistiria à experiência e ao conhecimento de política externa do democrata Joe Biden, a candidata republicana Sarah Palin saiuse surpreendentemente bem, o que não quer dizer que esteja preparada para assumir o poder em caso de necessidade.
Palin mostrou-se uma simpática dona-de-casa de classe média, e esteve tão à vontade que foi irônica em diversas ocasiões, mesmo enfrentando um dos ícones do Senado americano. Estava tão senhora de si que acusou a proposta Obama-Biden para o Iraque de ser “uma bandeira branca de rendição”.
E foi sarcástica ao com e n t a r q u e “ v o c ê s d e Washington são engraçados”, ao se referir aos votos de Biden a favor de intervenções militares dos Estados Unidos, inclusive no Iraque, e sua defesa agora do fim da guerra.
Esse apelo ao patriotismo, e a defesa de valores morais mais conservadores, juntamente com sua juventude, foi o que a tornou um sucesso de público desde que escolhida, e poderia contrabalançar a força natural que os democratas sempre tiveram nesta corrida presidencial.
Mas a crise econômica tornou praticamente impossível a tática da campanha de McCain de distanciálo da gestão Bush, marcandoo, e depois a própria Palin, como políticos independentes dentro do Partido Republicano, longe das cúpulas que fazem politicagem em Washington.
Além do fato de que o “maverick” McCain votou s e m p re c o m o g o v e r n o Bush, como salientou muito bem Joe Biden durante o debate dos vices, é forçar muito a barra marcar sua candidatura como distante da cúpula partidária, quando há montes de cenas filmadas dele ora com o velho George Bush pai, ora com Kissinger, de quem se orgulha de ser amigo há 35 anos.
Nesse item, a própria Palin veste melhor esse figurino, mas ela estava distante da cúpula partidária não por opção, mas por questões geográficas e políticas.
O Alasca não é um estado importante que mereça a atenção no jogo político, e ela só entrou na luta principal por ser uma desconhecida, mas com jeito de miss.
Quando o foco da discussão pública, porém, passa a ser a economia, com os efeitos da crise chegando ao cidadão comum, é constrangedor o candidato do partido oficial prometer medidas e atitudes que não foram tomadas nos últimos oito anos, e nem foram exigidas por ele.
O fato concreto é que Bush chega ao final de seu mandato com uma popularidade em torno de 20%, a mais baixa de toda a história republicana, ao contrário do que aconteceu logo depois dos ataques de 2001.
Naquele período, ele recebeu a maior consagração popular registrada na história recente americana, tendo atingido índices nas pesquisas de opinião maiores ainda que os de seu pai, também na Guerra do Golfo.
Naquela altura, o sucesso do governo era tanto que o líder da maioria na Câmara, Tom DeLay, previa que a hegemonia dos republicanos poderia durar décadas.
Como seu pai, por causa sobretudo da economia, George Bush termina o governo pessimamente avaliado, uma gestão que é responsabilizada pela “morte da marca republicana”, que a escolha de Sarah Palin reavivou por alguns momentos.
Mesmo essa tentativa de ressurreição foi artificial, jogando a candidatura de McCain para a direita, que o rejeitava por ser considerado muito “liberal”.
As dificuldades começam por aí: o último exemplo de sucesso dos republicanos na Casa Branca possível para McCain e Sarah Palin lembrarem é Ronald Reagan, há 20 anos, enquanto os democratas têm na figura de Bill Clinton uma referência mais recente de sucesso, e justamente resolvendo os problemas econômicos deixados pelo velho Bush.
A crise econômica ainda trouxe uma dificuldade adicional aos republicanos, ampliando as contradições em que se debatem. A formidável intervenção governamental representada pelo pacote de resgate dos bancos, afinal aprovado ontem pela Câmara, encontrou uma base parlamentar bastante dividida entre os conceitos tradicionais do livre mercado e não-intervenção estatal e a necessidade de uma providência urgente para não deixar a economia entrar em colapso definitivo.
O pacote recebeu 91 votos republicanos a favor e 108 contrários, mostrando como o partido está rachado. Todas as circunstâncias estão contrárias ao Partido Republicano, e a crise econômica só fez explicitar uma situação que era pressentida desde o início da campanha presidencial: o vencedor da disputa interna do Partido Democrata seria naturalmente o eleito presidente dos Estados Unidos.
O fato de ter sido Barack Obama, e não a senadora Hillary Clinton, criou uma divisão interna no partido que está sendo superada com o tempo. Também o fato de Obama ser o primeiro negro com chances reais de chegar à Casa Branca colocou em xeque boa parte do eleitorado americano, que somente agora, com a crise mordendo seus calcanhares, começa a se decidir pela alternativa natural de mudança dos oito anos de gestão republicana.
Entrevista:O Estado inteligente
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