Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 04, 2008

Uma etapa

A Câmara dos Representantes não tinha opção: sem o pacote de US$ 850 bilhões de ajuda do Tesouro dos Estados Unidos, a crise de confiança que abala o sistema financeiro americano e parte do mundial acabaria levando o país a uma profunda e incontrolável depressão, carregando junto grande parcela do planeta, ou todo ele.

Com uma crise dessas dimensões, a procura por títulos do Tesouro aumentou significativamente, pois ele se tornou o único porto seguro diante das incertezas em relação à solvência das instituições privadas.
A corrida tem sido tão intensa que a rentabilidade dos títulos passou a ser negativa, abaixo da inflação. E assim o crédito começou a sumir.

Uma crise de confiança nessas proporções empurra para o precipício até mesmo instituições que poderiam ser consideradas financeiramente saudáveis, pois o sistema financeiro funciona de maneira solidária. Uma empresa depende da outra. Quando há uma crise sistêmica, ninguém está seguro. Haja vista os bancos que já quebraram na Europa — também foram socorridos pelo poder público —, e os sinais de problemas de liquidez no Brasil. Tanto que os prazos, por exemplo, no financiamento de veículos, já encolhem, e passou a ser exigida uma parcela de entrada aos compradores. Acertadamente, o BC, pela segunda vez, reduziu o recolhimento compulsório bancário, e agora criou estímulo para as instituições maiores adquirirem crédito das menores.

O desaparecimento do dinheiro chegou ao ponto de estados americanos como a Califórnia e Nova York encontrarem dificuldades para se financiar. Arnold Schwarzenegger, governador californiano, enviou ontem um e-mail ao secretário do Tesouro, Henry Paulson, pedindo um empréstimo de emergência de US$ 7 bilhões, informou o “Los Angeles Times”. Portanto, estancar essa crise se tornou uma questão vital para todos. Não por acaso os mercados dos vários continentes operaram na sexta-feira antenados com o que estava acontecendo nos bastidores políticos de Washington, à espera do pacote.

É da tradição da política americana que presidentes em fim de mandato, sem possibilidade de reeleição, percam poder e influência junto ao Congresso. São chamados no jargão político de “patos mancos” (lame ducks). George W. Bush não foge a essa tradição, ainda mais que sua política fiscal, com déficits orçamentários gigantescos, muito decorrentes das despesas com as guerras que enfrenta, é apontada como um dos combustíveis da crise. Desse modo, a aprovação do pacote no Congresso exigiu uma negociação política peculiar, envolvendo diretamente os dois candidatos à sua sucessão, os senadores Obama e McCain. E isso em meio a uma campanha que envolve os próprios parlamentares, pois os deputados e um terço dos senadores estão também em fim de mandato.

A primeira rejeição por parte da Câmara dos Representantes detonou um princípio de pânico nos mercados, o que acabou contribuindo para uma reflexão na opinião pública americana sobre a gravidade da situação. A discussão conceitual, mais política e ideológica, foi substituída por um debate pragmático sobre o que fazer.

Os problemas estão solucionados com o pacote? Provavelmente não. Mas sua função é atenuar a crise de confiança, dando tempo para ser feito o inventário do tamanho da reparação efetivamente necessária para o sistema financeiro americano se recuperar do estouro da “bolha” imobiliária. E, por decorrência, o mundial

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