Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 07, 2008

Luiz Garcia Lula e Severino

Toda eleição prova algumas coisas.

Entre elas, o nível de informação do eleitor — e como ele afeta suas escolhas políticas.

Um exemplo, isolado mas preocupante, de memória fraca dos cidadãos, ou de sua capacidade de se iludirem, está na vitória em Pernambuco do ex-deputado Severino Cavalcanti, candidato a prefeito de João Alfredo, sua cidade natal.

Comecemos, portanto, com uma informação aos amnésicos eleitores pernambucanos.

Em 2005, esse deputado setentão foi forçado a renunciar à presidência da Câmara.

A alternativa seria a deposição, por crime de corrupção. Eram fortes as provas de que recebera suborno do concessionário de um restaurante da casa. Não se tratava de uma fortuna — pagamentos mensais entre R$ 10 e R$ 20 mil — mas o que vale é a intenção, não é mesmo? Ele conquistara a presidência como representante dos deputados do fundo do plenário, numerosos mas de escassa força política. As bancadas poderosas dos grandes partidos bateram cabeças numa disputa estéril, e Severino ganhou a disputa com uma bandeira simplista e fisiológica de vantagens materiais para todo mundo.

Por um tempo, sua espontaneidade e aparente ingenuidade fizeram dele um queridinho da mídia. Ninguém prestou muita atenção, por exemplo, quando defendeu penas suaves para colegas subornados por Marcos Valério, num dos escândalos do mensalão.

Mas veio a descoberta da mesada do restaurante.

Não era um dinheirão, mas certamente suficiente para impedir sua permanência no comando da Casa. Registrouse, também, o fato de que usara o prestígio do cargo para conseguir cargo na Sudene, de gordo salário, para um filho.

Severino negou o suborno e prometeu que o filho não assumiria o cargo. Mas teve de renunciar. Acabou sendo dupla renúncia: ao mandato e à promessa de desistir da boca rica do filho. Os eleitores não esqueceram, e no ano seguinte negaramlhe novo mandato. Acabam de decidir que ele merece mais uma chance.

Dá para entender a atitude dos cidadãos de João Alfredo. Duro de engolir é o comportamento do presidente Lula. Embora sequer sejam companheiros de partido, deu-se ao desplante de pedir votos, mais de uma vez, para que Severino ganhasse a prefeitura e, com ela, um bom trampolim para voltar à Câmara.

Perto dos 80 anos, ele certamente não tem fôlego para tentar mais uma vez presidir a casa; pode-se torcer para que também lhe falte alento para outras estripulias.

Pela ajuda espontânea, entusiasmada e inconcebível num presidente da República, Lula deveria ter a obrigação de torcer para isso.

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