Isso evitou uma escalada explosiva e permitiu a redução de 2,42% no dólar, para R$ 2,256. A pergunta é por que, num regime de câmbio flutuante, o BC intervém. Antes, o BC havia realizado operação de swap em que ofereceu dólares mediante promessa do comprador de devolvê-los a uma taxa prefixada. Constatou-se que esse tipo de operação não teve efeitos reais sobre as cotações. O BC deixou que elas subissem, mas não escapou da venda direta ontem, quando se estabeleceu um clima de quase pânico no mercado.
O objetivo da intervenção é buscar uma certa estabilidade do câmbio. A desvalorização ajuda os exportadores, mas ocorre num momento de retração dos mercados externos, que dificulta as vendas e retira parte da vantagem. Por outro lado, torna mais caras as importações (pressiona a inflação) e contribui para abortar a realização de investimentos, o que tem sido importante para a economia nos últimos meses.
Na fase de valorização do real, o BC dispôs de um instrumento importante na contenção da alta de preços. Pode estar temeroso, agora, de que a desvalorização se transforme em fator altamente inflacionário, enquanto as vantagens para a exportação podem ficar limitadas por causa da forte queda, em volume e preços, das commodities.
É possível que a queda de preço das commodities e, em particular, do petróleo, contrabalance em parte os efeitos inflacionários da desvalorização, que torna mais caros os bens importados.
Todavia, as autoridades monetárias estão conscientes de que a volatilidade da taxa cambial é perturbadora para o comércio exterior tanto nas exportações quanto nas importações. Um fato a notar ainda é que a desvalorização dificulta a colocação de títulos da dívida no exterior, o que levou o Tesouro a suspender as operações do "Tesouro Direto".
Pode-se temer que em alguns meios, diante da baixa eficácia das vendas diretas do BC, surja a idéia de retorno a um câmbio fixo, ou um "crawling peg", o que, na conjuntura internacional atual, seria altamente negativo.