Foi uma resposta política à crise financeira. Embora o medo de recessão e de perda de dinheiro ainda tenha prevalecido, foi passado o recado de que é possível organizar as autoridades globais num movimento de ordem unida contra o inimigo comum.
Apesar do ceticismo global, isso tem tudo para ser entendido como capacidade de mobilização ainda maior, em outros flancos da calamidade.
Mais dinheiro para enfrentar o bloqueio do crédito ajuda a atacar o incêndio. Mas está longe de ser suficiente se o objetivo é estancar a crise, que não é apenas de gargalo do crédito, mas de solvência dos bancos.
Alemanha, Inglaterra, França e Áustria tomaram decisões também de grande força política, que se destinaram a garantir os depósitos das instituições supervisionadas pelos seus bancos centrais. Para restabelecer a confiança ainda falta muita coisa, como mecanismos ágeis de capitalização dos bancos.
O Fundo Monetário Internacional é um caso exemplar de bombeiro incapaz de operar numa hora dessas, mas continua sendo bom editor de análises. No relatório que acaba de ser divulgado em Washington, às vésperas de sua reunião anual, está dito que os principais bancos do mundo precisarão de pelo menos US$ 675 bilhões em capital novo. É o equivalente ao pacote do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, que acaba de ser aprovado pelo governo americano. Mas pode ser mais.
Será praticamente impossível completar essa operação sem uma nova injeção de recursos públicos, pelo menos temporária. Em alguns países essa transfusão está sendo feita por meio da compra de ações preferenciais pelos respectivos tesouros para posterior revenda dessas posições.
No Brasil, o choque principal está centrado no câmbio que, em apenas dez semanas, enfrentou alta do dólar de 46%. O País passou por mais de uma dezena de maxidesvalorizações cambiais nos últimos 30 anos. No entanto (com exceção da que aconteceu em 1999), o empresário sempre soube qual passaria a ser o novo patamar de preço da moeda estrangeira. Agora ninguém tem certeza sobre aonde o câmbio vai se acomodar. Empresas com alta concentração de matérias-primas e componentes importados (caso da indústria automobilística, de eletroeletrônicos e de máquinas) terão dificuldade para definir preços e elaborar orçamentos.
Ontem, pela primeira vez desde 2003, o Banco Central recorreu às reservas e fez três leilões de venda no mercado. Pela primeira vez em sete dias, o dólar fechou em baixa, de 1,4%. E, à noite, reduziu o depósito compulsório liberando mais dinheiro aos bancos.
Mas a melhor resposta do governo Lula à crise seria uma corajosa derrubada nas despesas públicas que abrisse espaço também para uma forte derrubada dos juros.
CONFIRA
Fez efeito - O Tesouro americano despejou ontem uma ração extra de US$ 20 bilhões em títulos, que vinham desempenhando a função de principal porto seguro contra a crise.
A novidade matou momentaneamente a sede do mercado. Os preços dos títulos de dez anos caíram, aumentando seu rendimento (yield) em 4,4%, o que refletiu a maior oferta e/ou retração dos aplicadores.
Como o Tesouro terá de emitir pelo menos US$ 700 bilhões para financiar o pacote de ajuda aos bancos, pode-se ter uma boa idéia do impacto que esse lançamento terá no mercado.