O cenário traçado pelo FMI é especialmente sombrio para as economias desenvolvidas, as mais afetadas, até agora, pelo tumulto financeiro. Na zona do euro a produção deverá aumentar 0,2% em 2009. Nos Estados Unidos, ainda apontados como o epicentro da crise, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá expandir-se 0,1%. Há certo otimismo nessas previsões: os economistas do FMI admitiram, como hipótese, algum sucesso das políticas de estabilização financeira nos mercados europeu e americano.
Para a contenção dos estragos e a estabilização dos mercados, o FMI propõe uma fórmula surpreendente, quando se consideram os padrões defendidos tradicionalmente pela instituição: os governos devem capitalizar os bancos viáveis, promover a liquidação dos muito enfraquecidos e livrar o sistema dos ativos podres, isto é, dos créditos de qualidade muito baixa. É o novo realismo do Fundo, subscrito pelas autoridades americanas. Quando os problemas são muito graves e ameaçam a saúde de toda a economia, uma intervenção mais ampla do Estado é justificável, disse na terça-feira, num discurso, o presidente do banco central americano, Ben Bernanke.
Não são apenas palavras: o Tesouro dos Estados Unidos foi autorizado, na semana passada, a aplicar até US$ 700 bilhões no auxílio ao setor financeiro, a começar pela compra de ativos podres. Os governos europeus ainda não se animaram a ir tão longe, embora venham ampliando, pouco a pouco, o alcance de suas intervenções.
Ações desse tipo já não servem, segundo o FMI. O diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, cobrou maior ousadia dos governos, numa exortação dirigida, principalmente, embora de forma implícita, às autoridades européias. É hora, segundo ele, de abandonar as intervenções picadinhas e trabalhar no atacado, com políticas de alcance muito mais amplo.
Em seu novo Relatório de Estabilidade Financeira, os economistas do FMI não se limitam a propor medidas mais audaciosas. Cuidam de justificá-las, pintando um cenário de cores nada festivas. O fim da crise não está à vista. Os prejuízos globais vinculados a operações iniciadas com títulos americanos foram estimados, em abril, em US$ 945 bilhões. A nova estimativa do FMI indica US$ 1,4 trilhão. Para voltar à normalidade, os maiores bancos globais precisarão levantar, nos próximos cinco anos, US$ 675 bilhões de capital, além de vender cerca de US$ 1 trilhão de ativos não-essenciais ao seu negócio.
Nada parecido com isso atingiu os bancos brasileiros, em geral capitalizados e seguros. Mesmo assim, o crédito no Brasil encareceu, desde a redução das linhas externas. O setor produtivo é vulnerável à piora das condições no mercado financeiro global. Isso exige ação das autoridades, por enquanto de caráter preventivo. O BC reagiu imediatamente aos novos desafios, oferecendo ao mercado melhores condições de liquidez. Noutras áreas da administração federal a reação vem sendo mais lenta - prejudicada pela preocupação de mostrar o Brasil como ilha de tranqüilidade num mundo de insegurança criada pelas grandes potências. Mas o presidente da República reconheceu, afinal, a gravidade da situação e parece haver aderido ao realismo do BC.
Essa foi a boa notícia da semana.