Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 24, 2008

Petrobrás errou, mas o País precisa dela Alberto Tamer

Na onda do pré-sal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem desfilando uma série de críticas à Petrobrás. Tem insistido que o Brasil não é da Petrobrás, mas a Petrobrás é do Brasil. De fato, nem sempre os objetivos da empresa têm sido os mesmos do País. Como uma grande multinacional de capital aberto, tem de responder aos acionistas. E estes não são todos estrangeiros, como insinuam Lula e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, mas são principalmente grandes, pequenos e médios investidores nacionais. Com isso, visa obter lucros para continuar atraindo investimentos para financiar grandes projetos, entre os quais as grandes reservas do pré-sal. Seu custo de exploração será enorme, e o governo, como maior acionista, terá recursos para cobri-los.

ONDE LULA ESTÁ ERRANDO

O erro do presidente é acusar com tanto vigor e publicamente, nos palanques universitários e na imprensa, uma empresa, que nem sempre olhou para o Brasil, é certo, mas que precisa agora, mais do que nunca de centenas de bilhões de dólares para extrair o petróleo da Bacia de Santos.

E fica a pergunta, da última coluna: de onde viria essa soma enorme de recursos? Do caixa do Tesouro, sempre vazio diante dos imensos custos econômicos e sociais do País? Da venda antecipada do petróleo a ser extraído? Certamente não. Terá de vir, de uma forma ou de outra, de investidores privados nacionais e estrangeiros e não só da receita da Petrobrás. É por isso que o presidente precisa ter cuidado ao falar. Sem querer, pode prejudicar os mais pobres que ele tanto quer atender com a receita do petróleo. Ao precipitar-se e exagerar, ele pode atrasar tudo.

PETRÓLEO NÃO CABE EM PALANQUE

Sabemos que essa excêntrica, extravagante, quase ridícula campanha de Lula pelo "O petróleo é nosso", tem um cunho eleitoreiro. O presidente está pensando na eleição presidencial de 2010. Por isso, a vem associando com a imagem da sua candidata, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ela mesma defensora do petróleo que querem nos roubar do fundo do mar, trazendo navios piratas para levá-los embora... É ridículo, mas empolga e dá voto.

O governo precisa convencer-se de que misturar petróleo com política é lesivo não só aos interesses do País, mas também do povo brasileiro, entre os quais há uma diferença sutil. Nem sempre crescimento é sinônimo de desenvolvimento.

A PETROBRÁS SEMPRE ERROU...

Sim, sempre errou. Errou quando, às vésperas da grande crise do petróleo em 1973, seu então presidente Ernesto Geisel vetou associações com empresas estrangeiras em busca do petróleo que tínhamos, mas só agora achamos.

Truculento, Geisel na verdade as vetou depois como presidente da República, ao autorizar contratos de risco dracônicos. E, oferecendo as piores áreas, afastou, de fato, as empresas que tinham recursos e tecnologia que não dispunhamos.

Só agora os obtivemos, com mérito e esforço próprio, louve-se a Petrobrás, mas ao custo de um atraso de pelo menos 30 anos para o Brasil.

E errou contra o Brasil de novo quando deu prioridade à área comercial - refinarias estatais, comercialização e venda interna - e não à pesquisa de novas reservas.

Eram caras, tinham riscos e não davam lucro.

Errou mais ainda quando se sentou em cima do gás, não o explorou nem deixou que ninguém o explorasse. O gás nunca aparecia na matriz energética... Assim criou todos os obstáculos que pôde para impedir o acordo do gás com a Bolívia. Motivos? Ele competia com o óleo, que lhe dava mais lucros... E só com muita pressão, cedeu ao etanol, que pode lhe roubar uma pequena fatia do mercado.

Esses erros, conscientes e deliberados, custaram ao Brasil, nas crises de 1973 e 1979, e nos anos seguintes, a formação de uma dívida externa de US$ 60 bilhões. Em nome da pretensa soberania e independência nacional, criou-se uma dependência não só do petróleo e do gás, mas também do mercado financeiro, que um dia fechou, com medo do calote que veio, as portas para o Brasil.

PETROBRÁS ACERTOU...

Com as novas descobertas da Petrobrás, o cenário mudou. Não que ela tenha mudado. Continua fechada no seu corporativismo sedimentado por cinco décadas de poder quase absoluto. Minou-a o próprio aumento súbito da sua riqueza. Tornou-se grande demais, mesmo para um Estado dominante. Antes, praticamente não tinha petróleo e podia fazer o que bem entendesse. Agora, não. A Petrobrás, por mérito próprio, tornou-se uma das maiores multinacionais do petróleo, é respeitada internacionalmente e expande-se pelo mundo. Onde há petróleo e mercado, lá está ela.

Com as descobertas da Bacia de Santos, que podem ter de 5 bilhões a mais de 20, 30 bilhões de barris, a Petrobrás também tem de mudar.

... E PRECISA MUDAR

Sim, mas não da forma abrupta que Lula pretende e trombeteia. É preciso enquadrá-la, sim, mas não enfraquecê-la porque precisaremos dela para atrair capital para explorar as reservas de Santos. E rapidamente para atender logo a sociedade e a economia nacional. Não há de atrasar mais porque a exploração econômica, ela mesma vai demorar muito.

Temos pressa? Sim. O presidente tem pressa. Lula ouviu falar em usar a renda do petróleo como fator de justiça social, mas não sabe como e se perde em discursos dispersivos. Haverá dinheiro para tudo, sim, se bem administrado, o que não acontece hoje.

Lula precisa conscientizar-se, porém, de que tudo deve estar incluído num esquema em que a Petrobrás, apesar dos erros do passado, seja mais controlada, mas não enfraquecida. É hoje uma empresa técnica e financeiramente saudável. Agora, o Brasil precisa dela.

Uma campanha anti-Petrobrás e, acima de tudo, contra o capital estrangeiro, que precisamos, só atrasará o que se pretende obter com urgência.

E olhem, que este colunista severamente a criticou estes anos todos e lhe dedicou até um livro, Petróleo, o preço da dependência.

UMA ÚLTIMA PALAVRA

Presidente, o petróleo da Bacia de Santos é um assunto por demais sério para ser usado nos palanques eleitorais. Não vamos repetir os mesmos erros do passado.

*E-mail: at@attglobal.net

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