O que a imagem mostra e o que esconde
Dizia-se, antigamente, que uma boa imagem vale mais do que mil palavras. Nem sempre é verdade. Porque imagens, por si só, podem enganar. E aí só se valendo de palavras para explicar o engano.
Observe a notável foto acima de Gustavo Miranda publicada, hoje, na capa de O Globo. Foi feita ontem à noite quando assessores de Lula abriram as portas do gabinete para que ele pudesse ser fotografado ao lado do novo ministro das Minas e Energia Edison Lobão.
Quem parece na foto o vitorioso? Lobão. E o derrotado? Lula. O Cristo na parede serve para acentuar o ato de sacrifício feito por Lula em nome da governabilidade.
A imagem é espontânea e refleta a realidade? Sim e não.
É espontânea porque Lula fez cara de abatido porque quis. Ninguém sugeriu que ele fizesse. Lobão não tem perfil para ser ministro das Minas e Energia - e Lula sabe disso. O filho dele está enrolado com denúncias de irregularidades - e Lula também sabe disso.
Lobão virou ministro porque o PMDB o indicou - e Lula foi obrigado a aceitar a indicação para não correr o risco de perder o apoio de uma facção do partido, logo aquela comandada pelo poderoso senador José Sarney (AP). Lobão é cria política de Sarney.
A imagem não reflete a realidade porque antes de ser colhida Lula e Lobão conversaram descontraidamente. Deram boas risadas. De resto, nem mesmo Sarney teria força para fazer Lula engolir um nome que repelisse.
No meio do primeiro governo de Lula, autorizado pelo próprio, o ministro José Dirceu, da Casa Civil, convidou Roseana Sarney para ser ministra das Relações Institucionais. Ela se encarregaria da articulação política do governo. Lula mais tarde mudou de idéia e deixou Roseana pendurada na broxa.
Lula é um excelente ator - o melhor em cartaz há mais de uma década. Todos os políticos são atores. A política é uma peça sem fim. E nós, eleitores, formamos o distinto público.
A cena protagonizada por Lula serve aos propósitos dele de vender a idéia de que Lobão não foi escolha sua. Foi, sim. Presidente da República é quem nomeia ministro de Estado. Responde pelo que ele fizer de bom ou de ruim. Se preferisse, Lula poderia ter encomendado outro nome ao PMDB.