Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Celso Ming Clima pesado

Esperado com ansiedade, o pronunciamento feito ontem pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, reforçou uma dupla sensação negativa: a de que as condições da economia americana podem estar ainda mais deterioradas do que até agora admitido; e a de que as autoridades da área continuam inseguras quanto ao que fazer para reverter a crise.

As declarações feitas perante a Comissão do Orçamento não trouxeram novidades. Mas marcaram pelo tom adotado. Para não dizer que só há coisas ruins ocorrendo, Bernanke chegou a dizer que não espera recessão e que as expectativas de inflação parecem bem ancoradas, a ponto de permitir melhora ainda neste e no próximo ano. No mais, foram frases carregadas de expressões pesadas: grandes perdas e incapacidade de avaliar os ativos dos bancos; deterioração do mercado imobiliário; aumento do risco de recessão; condições desapontadoras do mercado de trabalho... Esse tom de prostração contaminou o mercado financeiro que, mais uma vez, baqueou - embora indicadores econômicos decepcionantes também tenham contribuído para isso.

Dois dos 15 parágrafos do pronunciamento foram dedicados ao projeto em exame, tanto na Casa Branca como no Congresso, de um pacote de estímulos fiscais cujo objetivo é puxar o consumo e evitar a recessão. A idéia original é distribuir US$ 500 por consumidor, reduzir impostos ou aumentar o seguro-desemprego.

Bernanke pareceu admitir que o Fed está sozinho na briga contra a crise e afirmou que medidas assim são bem-vindas. Parece dar razão àqueles que dizem que o Fed está perdido.

Mas lembrou as condições dessas medidas: que venham rapidamente e não quando a economia já estiver em recuperação; que tenham efeitos imediatos; e que sejam temporárias. E advertiu que um programa que aumente o déficit orçamentário poderá trazer desequilíbrios no futuro.

De qualquer maneira, se dinheiro mais abundante e juros mais baixos (política monetária) não estão conseguindo nem sanear o crédito nem consertar o patrimônio deteriorado dos bancos, por que então uma enorme injeção de recursos fiscais seria mais eficaz nessa parada?

Provavelmente de forma não intencional, Bernanke parece admitir que a verdadeira natureza da crise não é a má administração dos bancos ou a execução perdulária da política de juros pelo Fed nos primeiros cinco anos desta década, ambas inegáveis.

A verdadeira natureza da crise é, no fundo, a mesma que atacou os países emergentes nas décadas de 80 e 90: os rombos orçamentários produzidos pela administração George Bush a partir de 2001.

Se é assim, fica incompreensível que os Estados Unidos justifiquem estímulos fiscais condenados quando a crise ocorria em outros países. Quando a encrenca estava nos países emergentes, tanto o governo americano como o Fundo Monetário Internacional (FMI) bombardearam qualquer providência que implicasse aumento das despesas públicas. Se essa receita ortodoxa fosse aplicada agora, os Estados Unidos teriam de cortar suas despesas e antecipar o pagamento da dívida, o que ajudaria a equilibrar as finanças públicas e a atrair capitais externos.

Confira


Superlimpeza - São tão maiores do que os anteriormente projetados os prejuízos dos bancões americanos que passam a impressão de que as novas direções estão exagerando na limpeza para descarregar toda a responsabilidade sobre os administradores anteriores e estarem em condições de mostrar serviço ainda no primeiro semestre do ano.

Ao apresentarem os rombos, tanto o presidente do Citigroup como o presidente da Merrill Lynch usaram a mesma expressão condenatória da administração anterior: "É um desempenho claramente inaceitável."

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