No Planalto todo mundo já sabe: Lula é apenas uma
nova versão do Morro dos Ventos Uivantes.
No estranho giro desses olhos
Te comunico, a ti, amiga, porque ainda te quero, o ato de ver. É assim: ontem te vi em pé, na esquina, na entrada do Largo dos Leões. Há pouco, minha profunda amiga, aprendi a olhar de novo. Há muito tempo vinha olhando como me foi ditado primariamente (geneticamente?) pela natureza e pela coletividade. Estaticamente. Quando o objeto era estático, tudo bem. Quando te quis – estou lembrando do passado, do querer ativo – a visão era estática, mas eu não era e, girando em torno do teu corpo em pé, mutava o olhar e o que mirava. Mas se era eu que fitava e você que se movia, lentamente, belamente, meu olhar acompanhava o movimento e perdia com isso a noção do próprio movimento.
De repente, na rua, um dia, quando você havia muito tempo já tinha "ido embora", compreendi o que tinha perdido em não deixar meu olhar fixo, quando você, nua, se movimentava. Pois percebi, na rua, no andar de pessoas e mutações de coisas, que meu olhar, arrastado a um ponto preferencial, focal, perdia a beleza maior do conjunto. E deixei meu olhar aberto, fluindo, forma fluens, e, assim, solto no centro do movimento total, minha vista via o todo, o tudo, levando o ouvido também a ouvir em três, ou quatro?, profundidades. Conseguindo até esquecer o olvido, e me lembrar sempre de você nas palavras que penso, sem qualquer precisão, com múltipla imprecisão, e que transcrevo como posso, e... que é que estou dizendo? Não era nada disso.
...sem comer nem dormir durante vários anos, il pensiero va attraversando una fase di liberazione dai condizionamenti precedenti al rischio dell’ esperimento ideale. Rara é a hora que se passa sem que um sanduíche seja devorado e um padre pedófilo injustamente denunciado. Raro é o momento raro. Não, querida, já não bebo. O que bebia outrora. E como é inverno em agosto, agostaria muito de te ver. Ah, não é agosto? Não é a gosto? Nem àgoût? Então nem aparece. Não quero mais te ver, em pé, na esquina, na entrada do Largo dos Leões, bairro do Humaitá. Pois olharia com o mesmo olhar com que vi, do alto da torre Eiffel, do cimo do Everest, meu pobre coração portenho hecho en pedazos (Gardel) e, como sempre, dividiria a noite em duas metades e te daria uma, a de quem parte e reparte e fica com a maior parte, e você partia. Falar no quê, no que acabei de ver, ou foi ontem que vi, um avião navegando sereno no fundo do mar, sempre em direção à constelação de Aquário e sempre pensando em você que mesmo sem licença era cheia de licenciosidades. A meia rota, o pé diminuto e caindo, como sempre, a cotação da balsa. Eu disse balsa, amiga, e você me joga a bolsa, como se eu fosse um outro, dois outros, toda uma manada de outros sem razão nem critério. Cáspite!, disse então o demiurgo antigo perpetrando o décimo milagre. Cuspiu na santa e amanheceu pelado. Tornou a cuspir e anoiteceu vestido. Que faço então? Mordo e releio tudo de um golpe de olhos? Genérico, eu? Ganho o concurso, parto veloz, volto sem tardança, ensandecido diante da primeira luz de gás de óleo de baleia, que o acendedor acendia antigamente. "Olha a laranja seleta, olha a boa tangerina!" Cá, pra aqui, do lado de cá, assim, mais, mais, não vê? Oh, pardo de Deus, céu sem nuvens, fumaça de navio, esse navio com apito de trem lá bem distante no horizonte que não chega nunca. Rastro, a faca de gume santo, o tipo à toa descarado sem-vergonha e então, no mesmo instante, o galo có‑có‑ró‑có que imita minha avó apenas cocoroca! Tiro o quê, do maço de cigarros? Apenas dois charutos, ô meu! Morou? Chorou?
Dá-me o mundo e eu venderei esta alavanca!