"Lupi parece mas não é. Além das idéias que parecem úteis mas não são, Lupi não fala. Ele arenga às massas. Lupi não administra. Ele realiza sonhos. Comporta-se como ministro, mas não passa de um constrangimento"
O ministro Carlos Lupi, do Trabalho, está empenhado em realizar o que chama de "o meu sonho". Seu sonho é criar casas de trabalhadores brasileiros no exterior. Nessas casas, os brasileiros que vivem lá fora terão acesso a informações sobre obtenção de visto de trabalho, legislação trabalhista e lazer. No lançamento de 100.000 cartilhas que serão distribuídas nos aeroportos brasileiros e outros locais com orientações sobre a vida no exterior, o ministro definiu seu sonho: "Lá, o brasileiro vai poder escutar música popular e comer um feijãozinho amigo para matar a saudade". É precisamente assim que se criam as sinecuras. Parecem úteis, quando na verdade são apenas mais um cabide de emprego público inútil e dispendioso.
Amparar brasileiros no exterior é missão do governo, mas fica difícil entender por que é preciso criar casas de trabalhadores quando existe o Ministério das Relações Exteriores, que consumiu mais de 750 milhões de reais no ano passado para, entre outras coisas, manter sua rede de 100 embaixadas pelo mundo e meia centena de consulados. Em qualquer país civilizado, os servidores no exterior e as instalações diplomáticas servem para prestar assistência aos compatriotas. Se a rede brasileira lá fora faz um trabalho bom ou ruim, é outra discussão – embora seja certo que não existe para servir feijoada.
Para coroar sua desorientação, o ministro Lupi resolveu realizar seu sonho no momento em que os brasileiros começam a voltar para o Brasil. O ritmo do crescimento econômico, a maior oferta de empregos e o dólar fraco, combinados com a ameaça crescente de recessão nos Estados Unidos, acabaram por criar esse novo quadro em que as tais casas vão ficando especialmente desnecessárias. Estima-se que haja 4 milhões de brasileiros no exterior. Não há números precisos sobre a quantidade que já fez o caminho de volta, mas a cidade mineira de Governador Valadares, o maior símbolo da emigração nacional, já sente os efeitos dos dólares que começam a escassear. O grosso dos emigrados está nos Estados Unidos, no Japão, no Paraguai e em alguns países europeus. Lupi já decidiu que as primeiras casas dos trabalhadores serão em cinco países: Estados Unidos, Japão, Itália e Portugal. O quinto país não foi definido. A sinecura não quer exilar-se em Assunção.
Com esse tipo de patacoada, Lupi é cada vez mais um ministro que parece mas não é. Além das idéias que parecem úteis mas não são, Lupi não fala. Ele arenga às massas. Lupi não administra. Ele realiza sonhos. Comporta-se como ministro, quando não passa de um constrangimento. Em dezembro passado, a Comissão de Ética Pública pediu que escolhesse entre ser ministro e presidir seu partido, o PDT. A comissão entendeu que a acumulação dos cargos fere o código de conduta das autoridades federais. Lupi saiu-se com a avaliação de que estar nos dois cargos "não é ilegal". Ninguém disse que era. Lupi diz entender de lei, mas não entende de ética.
É claro que o presidente Lula não tomou a decisão de demiti-lo, nem pediu que deixasse o comando do PDT. Assim, ministro e comissão de ética ficam mancos, parecendo ser sem sê-lo. Para um governo que, às portas de uma crise energética, contrata Edison Lobão para as Minas e Energia, até que faz sentido. Lobão é outro que vai direto para a fila dos ministros que parecem mas não são.
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