Merval Pereira - Vitória da pressão |
O Globo |
11/1/2008 |
Uma sinalização forte de que a libertação das reféns Clara Rojas e a ex-congressista Consuelo González não deve ser transformada em uma vitória das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) - ou dos meios ilegais de ação política, mas sim ser vista como o sucesso da pressão da opinião pública internacional, dando início a um processo para que os demais reféns sejam libertados - foi a reação unânime mundial, que ao mesmo tempo em que festeja a volta à liberdade das duas, depois de seis anos de cativeiro, denuncia o seqüestro de pessoas como um inaceitável crime contra os direitos humanos, que não pode ser tolerado pela comunidade internacional. O presidente Hugo Chávez desta vez teve um comportamento correto até o momento, deixando de lado as fanfarronices para tratar o assunto em seu nível mais alto: a busca de paz para a Colômbia. Se utilizar seus contatos com as Farc para intermediar um processo de paz, que parte necessariamente da libertação dos reféns, que podem ser em torno de 600 presos, Chávez estará, aí sim, exercendo um papel de relevo na integração da América Latina. Da maneira como se iniciou esse processo, com Chávez outorgando-se o direito de dar ordens diretamente a militares colombianos, e aceitando participar de uma operação de marketing político cujo objetivo central era enfraquecer o presidente colombiano Álvaro Uribe e transformar Chávez no grande líder regional, nada de bom poderia resultar, como de fato aconteceu. O governo colombiano criticou a primeira delegação, afirmando que eram simpatizantes dos guerrilheiros e não representantes imparciais. O assessor especial da Presidência brasileira, Marco Aurélio Garcia, apressou-se em declarar-se ofendido com a crítica, e sugeriu que o Itamaraty protestaria. O fato, no entanto, é que Marco Aurélio, como representante do PT, é um dos fundadores do Foro de São Paulo, organismo incentivado por Lula para reunir a esquerda latino-americana. Se a reunião de partidos de esquerda é um direito democrático, aceitar no Foro representantes de organizações criminosas, como as Farc e outros grupos guerrilheiros, retira da reunião o caráter democrático que eventualmente pudesse ter. Tratar organizações criminosas como representantes institucionais de oposição a um governo eleito democraticamente não é aceitável, a não ser que o caráter revolucionário desses partidos tenha prioridade sobre a prática da democracia. Descoberta a farsa do menino Emmanuel, que já não estava com os guerrilheiros, desmontou-se a operação e o governo colombiano pôde recuperar sua autonomia, não sem que antes o próprio Chávez, coadjuvado pelos guerrilheiros, tivesse acusado primeiro o governo americano, depois o colombiano, de terem impedido a concretização da libertação. Chávez chegou a duvidar que o menino internado num orfanato oficial em Bogotá fosse realmente Emmanuel, o filho de Clara Rojas com um guerrilheiro das Farc, e deu crédito à versão dos guerrilheiros de que tudo não passava de uma armação política dos Estados Unidos. O fato é que não existe nenhum tipo de justificativa para apoiar um movimento guerrilheiro que é ilegal várias vezes: está montado contra um governo eleito democraticamente, pratica o seqüestro de cidadãos como moeda política e aliou-se aos traficantes de cocaína para financiar-se. Ser contra ou a favor do governo de Álvaro Uribe, ou de qualquer outro presidente que venha a ser eleito, é uma prerrogativa democrática. Mas tentar derrubar um governo eleito em nome de uma ideologia, que já deixou de ser de esquerda para transformar-se em criminosa, tem que merecer o mesmo repúdio que merece o golpe que tentou tirar Hugo Chávez do poder na Venezuela, ou a tentativa desse mesmo Chávez de instituir uma ditadura através de consultas populares. O presidente Hugo Chávez, talvez escaldado pelas últimas derrotas, tem demonstrado uma posição menos arrogante e mais próxima do que se espera de um líder político que pretende ter papel de relevo nas relações internacionais. Sua declaração de que está empenhado num processo de paz para a Colômbia só merece elogios dos realmente democratas, mas não é possível imaginar-se um processo de paz em que as guerrilhas continuem mantendo prisioneiros na selva colombiana e aliadas ao narcotráfico. Se a libertação das duas reféns for um passo inicial para a integração das Farc ao sistema democrático vigente na Colômbia, na forma de um partido político institucionalizado, teremos uma evolução positiva do quadro. É improvável que isso aconteça, no entanto, pelo envolvimento com o narcotráfico. O governo brasileiro já se movimenta para garantir uma boa relação com uma provável futura administração democrata nos Estados Unidos, mesmo sendo idéia generalizada que um presidente republicano seria menos protecionista, mais aberto a uma abertura comercial. Se, por um lado, a senadora Hillary Clinton é mais próxima a áreas do PSDB, pela amizade do ex-presidente Bill Clinton com Fernando Henrique Cardoso, o governo Lula tem um canal especial de contato com o senador Barack Obama.
Dois filhos de Mangabeira Unger também estariam engajados na campanha presidencial de Obama, como, aliás, a maioria dos jovens eleitores. Mas há também no staff da senadora quem se preocupe com o fato de que, nos primeiros dois anos de um eventual mandato, ela terá que lidar com a administração do PT, e por isso é necessário já fazer contatos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, janeiro 11, 2008
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