Clarissa Oliveira
A provável nomeação do senador Edison Lobão (PMDB-MA) para o Ministério de Minas e Energia serve de exemplo do exagero no loteamento político de cargos que tomou conta do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação é do cientista político Amaury de Souza, sócio-diretor da MCM Consultores Associados, para quem a prática ficou “fora de proporção”, principalmente desde o início do segundo mandato.
“Originalmente, isso ficava restrito aos cargos de confiança”, afirma o analista. “As nomeações políticas atingem, agora, todos os níveis dos ministérios, as agências reguladoras e tantos outros cargos técnicos.” Mais preocupante, segundo ele, é a extensão que essa prática adquiriu nas empresas estatais. “É ruim termos isso na administração pública. Mas é desastroso isso acontecer em empresas públicas.”
Para Souza, nem mesmo a busca da governabilidade justifica o tamanho do problema. “Não se sabe por que o presidente precisa de tanta gente apoiando o governo dele. Afinal, a única emenda constitucional que ele tentou passar foi a da CPMF.”
O também cientista político Fabio Wanderley Reis, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz compreender o esforço do governo para garantir o apoio dentro de sua própria base. “Temos um sistema político no qual, com freqüência, o governo depende de composições desse tipo para garantir a chamada governabilidade”, ressalta. “Mas certamente pode haver deficiências técnicas em uma pasta.”
Trata-se, de acordo com Reis, de mais um reflexo da “precariedade do sistema partidário” do País, que poderia ter sido amenizada com uma reforma política consistente.