José Dirceu 1 - Finalmente, a admissão dos crimes petistas. Mais: esquema PT é igual a esquema PC
Dirceu, a gente sabe, orgulha-se de seu realismo, não é? Lembro-me do esforço que Franklin Martins fazia, quando era apenas um jornalista civil, para dizer que não havia provas da existência do mensalão no PT. Huuummm. Leia o que disse o ex-ministro-chefe da Casa Civil e vejam se isso não se parece com uma confissão: “Esse pessoal [ele está falando dos petistas] é assim. Chegava para o Delúbio e falava: ‘Delúbio, preciso de 1 milhão’. Como é que alguém vai arrumar esse dinheiro assim, de uma hora para outra? Aí, quando não recebiam o dinheiro, diziam que estavam sendo preteridos porque eram de uma outra corrente, de uma outra ala, que a direção era autoritária. O pobre do Delúbio tinha que ir aos empresários conseguir doações. Aí, estoura o mensalão, e esse pessoal vem dizer que o Delúbio era o homem da mala. O que não dizem é que a mala era para eles.”
E Delúbio? Terá caído em desgraça? Nada disso. Ele ainda é homem de confiança da turma, daí que tenha arcado com tudo sozinho, sem jamais roer a corda. Ele é funcionário do Moderno Príncipe, do ente de razão que governa o Brasil. Segundo a reportagem da Piauí, Dirceu se encontra semanalmente com o agora deputado Antonio Palocci (SP). Dias antes da entrevista, quem participou do bate-papo? Justamente Delúbio. Todos eles jantaram na casa do deputado João Paulo Cunha (SP), outro mensaleiro petista.
Mas vocês não devem deixar escapar o detalhe: “O POBRE DO DELÚBIO TINHA QUE IR AOS EMPRESÁRIOS CONSEGUIR DOAÇÕES.” Doações??? Por que alguém doaria dinheiro ao partido? Ora, só o faz quem espera compensações, não é? ATENÇÃO: COLLOR CAIU QUANDO SE DEMONSTROU QUE EMPRESÁRIOS DOAVAM DINHEIRO AO ESQUEMA PC EM TROCA DE COMPENSAÇÕES. Não há escapatória: Dirceu está dizendo que o mesmo esquema funcionou – funciona ainda? – no petismo. Até porque as “doações”, evidentemente, eram ilegais e devidamente sonegadas.
Mas ele foi além: afirmou que a sede do PT gaúcho foi construída só com “dinheiro de caixa dois”, com “mala de dinheiro”. O governador, à época, era Olívio Dutra. Muito solidário, afirma Dirceu: “A gente estava com eles, não os abandonamos em nenhum minuto". Ouvido a respeito, o ex-governador disse estranhar a afirmação, já que a tal sede não foi “construída”, mas “comprada”. O homem é mesmo um formalista, não é? O centro da informação não está na compra ou na construção, mas no caixa dois. Não sei se vocês se lembram: o governo de Olívio Dutra foi marcado pelo escândalo do jogo do bicho.
Heloísa Helena
A presidente nacional do PSOL, Heloísa Helena, não escapou. Segundo Dirceu, ela realmente votou contra a cassação do ex-senador Luiz Estevão (DF): "Votou mesmo e por motivos impublicáveis. Mas nunca a deixamos sozinha, defendemos o tempo todo, mesmo sabendo que a história era diferente. Depois, olha o que fazem.” A ex-senadora já avisou que vai processá-lo. Ah, bem, que se esclareça: ela própria já comentou a insinuação de que tivesse um caso com Estevão. Chegou a dizer que não dormia com “homem rico e ordinário” e que “vomitava em cima”. Ele respondeu (leia abaixo).
Sigamos ainda com José Dirceu. Escreve a Piauí sobre a sua atuação profissional: “Tem uma carteira de quinze bons clientes, a maioria deles estrangeiros, aos quais presta consultoria. Os brasileiros lhe pagam entre 20 e 30 mil reais. Deu como exemplo de cliente de peso o banco Azteca, do empresário mexicano Ricardo Salinas, que quer se estabelecer no Brasil (...). Outro cliente é o também mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, que planeja implantar no Brasil a televisão a cabo com mensalidade de 40 reais. 'Mas não sou consultor dele no Brasil', disse. 'Como defendo coisas contrárias ao interesse dele aqui, temos um acerto informal de buscar negócios em outros países da América Latina'."
O modo Dirceu
Quero chamar a atenção para um aspecto notável da entrevista de Dirceu: observem que, em três momentos, ele fala de fidelidade: 1) os petistas buscavam dinheiro com Delúbio e depois se fizeram de escandalizados; 2) o PT nacional apoiou o PT gaúcho no momento das denúncias; 3) o partido apoiou Heloísa Helena, embora, segundo o ex-deputado, ela realmente tenha votado contra a cassação de Luiz Estevão. Dirceu tem uma noção de fidelidade que lembra muito a máfia italiana: o partido oferece proteção aos seus, pouco importa o que façam, mas exige reciprocidade. Tem de funcionar como ordem unida, ou os que dissentem recebem o beijo da morte.
Preciso ler a entrevista no detalhe para tentar interpretar os recados, mas o que se tem até aqui é a clara e inequívoca confissão de alguns crimes, não é? Mais: Dirceu fala como quem soubesse dos métodos a que recorria Delúbio Soares, mais do que nunca, vê-se agora, uma prática autorizada pelo partido. E, se era assim, resta evidente que o chefão de todos, Luiz Inácio Lula da Silva, sempre soube de tudo.
“Imprensa golpista”
Dirceu, evidentemente, não tem competência para absolver ou condenar o jornalismo que se pratica no Brasil. Mas os tontons-macoutes petralhas que acusam a mídia de ser “golpista” e de perseguir os moralistas do PT estão recebendo a confirmação do Grande Chefe Vermelho: era tudo verdade.
José Dirceu ataca Heloísa Helena, Garibali, Jefferson, etc...
Novos extratos da reportagem de 12 páginas publicadas pela revista Piaui sobre o ex-ministro José Dirceu:
* “Ela [a ex-senadora Heloísa Helena, presidente do PSOL] votou contra a cassação do [senador] Luiz Estevão. Votou mesmo, e por motivos impublicáveis. Mas nunca a deixamos sozinha.”
* "É um gaiato [Garibaldo Alves, atual presidente do Senado]. Já trocou o guarda-roupa e deve estar arrumando os dentes, e isso vai dar um trabalho danado”. “Esse Garibaldi tem duas rádios. E fica por isso mesmo.”
* [O senador Jefferson Péres (PDT-AM)] "fica aí posando de arauto da moralidade e a mulher trabalha no gabinete dele. É nepotismo.”
Dirceu tratou ainda da eleição de 2010. Admitiu que as ministras Dilma Rousseff (Casa Civil) e Marta Suplicy (Turismo) têm poucas chances de vitória. “Se eu ainda tivesse a petulância de me candidatar à Presidência, era capaz até de ser eleito.” Leia mais aqui
Caixa 2 pagou sede do PT gaúcho, diz Zé Dirceu
Trechos da reportagem de 12 páginas de Daniela Pinheiro sobre o ex-ministro José Dirceu publicada na edição da revista Piaui que chegou hoje às bancas no Rio e em São Paulo:
* "Disse que a construção da sede do PT, em Porto Alegre, 'foi feita só com dinheiro de caixa dois. Era com mala de dinheiro'. Lembrou que quando foi feita a denúncia, que atingia em cheio o governo de Olívio Dutra, 'a gente estava com eles, não os abandonamos em nenhum minuto'.
* Sobre as críticas de outras correntes do PT em relação ao mensalão: 'Esse pessoal é assim. Chegava para o Delúbio e falava: 'Delúbio, preciso de 1 milhão'. Como é que alguém vai arrumar esse dinheiro assim, de uma hora para outra?', disse, referindo-se ao ex-tesoureiro do partido sob a acusação de ter montado o esquema irregular de financiamento de campanha. 'Aí, quando não recebiam o dinheiro, diziam que estavam sendo preteridos porque eram de uma outra corrente, de uma outra ala, que a direção era autoritária. O pobre do Delúbio tinha que ir aos empresários conseguir doações. Aí, estoura o mensalão e esse pessoal vem dizer que o Delúbio era o homem da mala. O que não dizem é que a mala era para eles'.
* [Zé Dirceu] tem uma carteira de quinze bons clientes, a maioria deles estrangeiros, aos quais presta consultoria. Os brasileiros lhe pagam entre 20 e 30 mil reais. Deu como exemplo de cliente de peso o banco Azteca, do empresário mexicano Ricardo Salinas, que quer se estabelecer no Brasil (...). Outro cliente é o também mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, que planeja implantar no Brasil a televisão a cabo com mensalidade de 40 reais. 'Mas não sou consultor dele no Brasil', disse. 'Como defendo coisas contrárias ao interesse dele aqui, temos um acerto informal de buscar negócios em outros países da América Latina'."
Leia outros trechos no blog "E você com isso?"