Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 13, 2008

Isolada e sem apoio, Farc atuam na fronteira com o Brasil

Farc, combalidas, fazem de regiões de fronteira seu bastião

Guerrilha ainda tem forças para fazer conflito perdurar, embora politicamente desprestigiada e sem apoio popular

Bogotá, amparado por ajuda dos EUA e serviço de inteligência cada vez mais eficaz, minimiza poderio; cúpula do grupo está intacta

Alejandra Vega-10.jan.2007/France Presse

O prefeito de Bogotá, Samuel Moreno, empunha cartaz de Ingrid Betancourt, refém das Farc desde 2002, em celebração da soltura de Clara Rojas e Consuelo González

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

Pressionadas pela forte ofensiva do governo Álvaro Uribe e desprestigiadas politicamente, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) se concentram cada vez mais em áreas fronteiriças despovoadas, como os departamentos vizinhos ao Brasil. Mas ainda estão longe de uma derrota militar.
Financiado pelo Plano Colômbia, o bilionário programa norte-americano de ajuda ao combate ao narcotráfico, o governo colombiano tem imposto uma série de derrotas militares, ajudadas por um cada vez mais eficiente serviço de inteligência. Desde o início do governo Uribe, em 2002, as Farc praticamente desapareceram de zonas importantes do país, inclusive do entorno de Bogotá, onde mantinham uma presença histórica.
O governo Uribe também tem tido importantes vitórias simbólicas. Em setembro do ano passado, por exemplo, os militares colombianos localizaram e mataram Tomás Medina, o "Negro Acácio", comandante de segundo escalão ligado ao traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar. O ataque foi realizado com os recém-adquiridos Super Tucanos, da Embraer, aeronave considerada mais adaptada para a guerra de guerrilhas.
A percepção de que as Farc são uma ameaça militar também diminuiu bastante na população colombiana. Uma pesquisa do instituto Gallup feita em novembro, por exemplo, mostra que 63% da opinião pública crê que a guerrilha possa ser derrotada. Um recente comunicado prometendo uma "ofensiva total" não foi levado como uma ameaça séria nem sequer pelo governo Uribe.
"Esse é o mesmo discurso das Farc há 40 anos. A cada ano, dizem que farão a ofensiva final para tomar o poder. Isso não nos assusta. As Farc sempre fizeram o dano que puderam fazer, nunca se contiveram. E se não podem fazer mais nada neste momento, é porque a política de segurança democrática tem sido bem-sucedida", disse à Folha Luis Carlos Restrepo, alto comissário para a Paz do governo colombiano.
"Neste momento, não têm controle de nenhum povoado importante. Estão basicamente retirados na selva e ali vivem dos cultivos de coca", afirmou.

Cúpula intacta
Apesar da perda de mobilidade, analistas colombianos mostram que as Farc continuam longe de uma derrota definitiva. Um indício é que ninguém da sua cúpula, formada por sete membros e pelo líder máximo, Manuel Marulanda, foi preso ou morto até hoje.
"Em termos militares, não há uma derrota específica das Farc. Elas se concentraram num recuo por causa da ofensiva do presidente Uribe. É preciso ter em conta que as Farc surgiram em meio a uma grande ofensiva militar em 1964, na qual aprenderam a recuar para continuar suas ações", disse à Folha Jorge Rojas, diretor da ONG Codhes (Consultoria para os Direitos Humanos e para o Refúgio).
De acordo com Rojas, as Farc têm realizado uma espécie de "colonização armada" na ampla e despovoada área do sudeste colombiano, com cerca de de 360 mil km2, equivalente ao Mato Grosso do Sul.
"Há selvas o suficiente para que as Farc se tornem difíceis de localizar e combater. Quem está nessa zona são o comando e provavelmente também os seqüestrados. Ali, não há muitas ações militares. Eles têm mais mobilização, têm contatos na fronteira para abastecimento. Se essa tendência se mantiver, a Colômbia pode ficar outros 40 anos em guerra sem que aconteça nada de diferente ao que ocorreu até agora", prevê Rojas.
Com relação à fronteira com Brasil, Rojas disse que existe um processo "ascendente" de presença das Farc: "Embora sejam episódios marginais, existe uma tendência preocupante de crescimento guerrilheiro nessa zona".
Para Restrepo, no entanto, a presença da guerrilha na fronteira com o Brasil não é preocupante. "Ali, há uma dinâmica de narcotráfico muito ativa, que igualmente é uma ameaça tanto para Colômbia quanto para o Brasil. Nosso interesse é ter maior cooperação, porque o narcotráfico corrompe com muita facilidade."

Sem apoio político
Com poderio militar limitado, as Farc tampouco desfrutam de popularidade entre a população colombiana. A pesquisa do instituto Gallup revelou que apenas 1% da opinião pública do país tem uma imagem favorável da guerrilha de esquerda.
Recentemente, as Farc sofreram um novo e duro revés na opinião pública, quando o governo colombiano revelou que o filho da recém-libertada Clara Rojas, nascido em cativeiro, estava em Bogotá, e não com a mãe, como o grupo afirmara.
"Politicamente, a guerrilha sempre tem sido marginal na política colombiana, com a exceção do anos 1980, com a época do M-19", disse Alejo Vargas, cientista político da Universidade Nacional da Colômbia, em Bogotá. "Nos últimos anos, as Farc conseguiram ter um altíssimo nível de desprestígio político, em parte pela campanha do governo. Neste momento, podemos dizer que a sociedade colombiana tem uma profunda aversão pela guerrilha."

Voltei
Pois é... E o governo Uribe, que faz o que deseja 99% dos colombianos — combater os terroristas das Farc — é tratado com discreta hostilidade pelo Brasil, sempre tão simpático à causa dos bandidos. Quanto a Chávez, nem se diga.

Eu já desconfiava: certamente há mais gente na USP apoiando as Farc do que na Colômbia. Afinal, ali também há mais antiamericanos do que em Bagdá ou no Afeganistão.

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