Ingerência política leva à demissão da cúpula
de um dos órgãos federais mais respeitados
Diego Escosteguy
Fotos Dida Sampaio/AE, José Patricio/AE | |
O secretário Romeu Tuma Júnior e o ministro da Justiça, Tarso Genro: um desmonta, o outro, por enquanto, assiste a tudo calado |
Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça é uma das raras repartições do governo que funcionam com eficiência. Criado em 2004, o DRCI tornou-se responsável, entre outras coisas, por caçar e bloquear contas secretas dos corruptos brasileiros no exterior. Apesar de ser oficialmente subordinada ao ministro da Justiça, a equipe de quarenta peritos do departamento – todos sem filiação partidária – desfrutou de plena independência para cumprir essa delicada missão. Agora, essa ilha de excelência está ameaçada. No decorrer das duas últimas semanas, a diretora do DRCI e sua principal auxiliar pediram demissão. Saíram caladas, alegando apenas "motivos pessoais". Na realidade, saíram por outros motivos: o novo secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, vinha tentando interferir politicamente nas decisões do departamento.
Tuma Júnior é delegado de polícia, mas sua principal credencial é ser filho do senador Romeu Tuma. Ele está no posto desde setembro passado. Faturou o cargo como prêmio pela adesão do pai à base do governo. O choque entre ele e a equipe técnica começou logo depois de sua posse. Já na primeira reunião com o grupo, segundo o relato de dois dos participantes, Júnior disse a que viera: "Eu quero saber de todos os casos que envolverem políticos, para poder cobrar a fatura depois". Ele não explicou a qual fatura se referia nem como ela seria cobrada, mas os funcionários do departamento preferiram não correr riscos e passaram a esconder do chefe o inteiro conteúdo dos casos sob investigação, todos eles de alta octanagem.
Tuma Júnior, segundo os descontentes, tirou do departamento o esboço de um anteprojeto para uma nova lei de cooperação internacional e deu o papelório de presente ao pai, que apresentou a proposta no Senado como se fosse sua. A gota d’água para o pedido de demissão da cúpula do DRCI foi a decisão de Tuma Júnior de repassar o comando do premiado laboratório de combate à lavagem de dinheiro, hoje coordenado pelo departamento, para a Polícia Federal. Ou seja, ele decidiu privar o DRCI da mais eficiente arma para pegar corruptos. Não satisfeito, o delegado ainda conseguiu nomear sua mulher, Luciane, para um cargo no ministério. "É um ganho para o governo", afirma. Ele nega qualquer ingerência no DRCI: "Trato o departamento como um órgão de estado". Além das demissões dos técnicos, procuradores que têm casos em conjunto com o departamento revelaram a VEJA que podem pôr fim à até aqui bem-sucedida parceria. O ministro Tarso Genro, chefe de Tuma, ainda não se manifestou.
SEGUINDO O DINHEIRO SUJO O Departamento de Recuperação de Ativos, o DRCI, é responsável pelo bloqueio e pela repatriação dos recursos remetidos ilegalmente ao exterior. Os casos mais conhecidos:
Fotos Bertrand Langlois/AFP, Alex Silva/AE, Beto Barata/AE, |