Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 12, 2008

Interferência política causa demissões

O efeito Tuma

Ingerência política leva à demissão da cúpula
de um dos órgãos federais mais respeitados


Diego Escosteguy

Fotos Dida Sampaio/AE, José Patricio/AE
O secretário Romeu Tuma Júnior e o ministro da Justiça, Tarso Genro: um desmonta, o outro, por enquanto, assiste a tudo calado

Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça é uma das raras repartições do governo que funcionam com eficiência. Criado em 2004, o DRCI tornou-se responsável, entre outras coisas, por caçar e bloquear contas secretas dos corruptos brasileiros no exterior. Apesar de ser oficialmente subordinada ao ministro da Justiça, a equipe de quarenta peritos do departamento – todos sem filiação partidária – desfrutou de plena independência para cumprir essa delicada missão. Agora, essa ilha de excelência está ameaçada. No decorrer das duas últimas semanas, a diretora do DRCI e sua principal auxiliar pediram demissão. Saíram caladas, alegando apenas "motivos pessoais". Na realidade, saíram por outros motivos: o novo secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, vinha tentando interferir politicamente nas decisões do departamento.

Tuma Júnior é delegado de polícia, mas sua principal credencial é ser filho do senador Romeu Tuma. Ele está no posto desde setembro passado. Faturou o cargo como prêmio pela adesão do pai à base do governo. O choque entre ele e a equipe técnica começou logo depois de sua posse. Já na primeira reunião com o grupo, segundo o relato de dois dos participantes, Júnior disse a que viera: "Eu quero saber de todos os casos que envolverem políticos, para poder cobrar a fatura depois". Ele não explicou a qual fatura se referia nem como ela seria cobrada, mas os funcionários do departamento preferiram não correr riscos e passaram a esconder do chefe o inteiro conteúdo dos casos sob investigação, todos eles de alta octanagem.

Tuma Júnior, segundo os descontentes, tirou do departamento o esboço de um anteprojeto para uma nova lei de cooperação internacional e deu o papelório de presente ao pai, que apresentou a proposta no Senado como se fosse sua. A gota d’água para o pedido de demissão da cúpula do DRCI foi a decisão de Tuma Júnior de repassar o comando do premiado laboratório de combate à lavagem de dinheiro, hoje coordenado pelo departamento, para a Polícia Federal. Ou seja, ele decidiu privar o DRCI da mais eficiente arma para pegar corruptos. Não satisfeito, o delegado ainda conseguiu nomear sua mulher, Luciane, para um cargo no ministério. "É um ganho para o governo", afirma. Ele nega qualquer ingerência no DRCI: "Trato o departamento como um órgão de estado". Além das demissões dos técnicos, procuradores que têm casos em conjunto com o departamento revelaram a VEJA que podem pôr fim à até aqui bem-sucedida parceria. O ministro Tarso Genro, chefe de Tuma, ainda não se manifestou.

SEGUINDO O DINHEIRO SUJO

O Departamento de Recuperação de Ativos, o DRCI, é responsável pelo bloqueio e pela repatriação dos recursos remetidos ilegalmente ao exterior. Os casos mais conhecidos:

Paulo Maluf
O DRCI bloqueou parte dos 200 milhões de dólares que o deputado remeteu para contas secretas no exterior.
O juiz Lalau
O juiz Nicolau dos Santos Neto teve 4,5 milhões de dólares bloqueados na Suíça.
Duda Mendonça
Contas secretas do marqueteiro do PT foram bloqueadas quando uma filha tentava sacar todo o dinheiro.
MSI/Corinthians
O Ministério Público Federal investiga o dinheiro usado na compra e venda de jogadores do time.

Fotos Bertrand Langlois/AFP, Alex Silva/AE, Beto Barata/AE,
Wladimir de Souza/Ag. O Globo

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