O Estado de S. Paulo |
10/1/2008 |
A briga do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, com a Comissão de Ética Pública da Presidência da República está feia, cria constrangimentos para todo lado, mas ainda vai piorar bem. Instado a escolher entre ficar no ministério ou na presidência do PDT, Lupi não faz uma coisa nem outra. Acha que foi ofendido pelo presidente da comissão, Marcílio Marques Moreira, a quem acusa de “antiético” por ter quebrado o sigilo previsto nas normas da comissão, e avisa que vai recorrer à Justiça em busca de reparação por danos morais e prejuízos à imagem do partido. Enquanto a Advocacia-Geral da União não se pronunciar oficialmente sobre o assunto e o presidente Luiz Inácio da Silva não exigir dele uma decisão, vai ficando onde está. No momento, dedica-se ao exercício da queda-de-braço. “Sou carcamano.” Lupi admite que sua posição cria problemas e que não custaria nada pedir uma licença formal do PDT. “Mas não vou, seria hipocrisia, porque minha influência e participação no PDT continuariam inalteradas. Atenderia às aparências e nada mais.” Neste caso, argumenta, daria uma satisfação, poria panos quentes no caso, mas, segundo ele, estaria aceitando a “criminalização” da função de dirigente partidário e corroborando uma decisão que considera “arbitrária e ilegal” por parte, não da comissão, mas do presidente com quem, na verdade, estabeleceu o contencioso. “Se ele não tivesse ido para a imprensa me achincalhar, me desmoralizar, eu poderia ter tido outra reação. Mas como preferiu o ataque, comprei a briga e agora vou até o fim.” Por “fim” entenda-se uma ação no Supremo Tribunal Federal contra a recomendação da comissão de pedir ao presidente Lula sua demissão - “nenhuma interpretação pessoal pode estar acima da Constituição” - e mobilização junto a outras legendas pela revogação da norma que proíbe presidentes de partidos de serem ministros. “Por que isso, se a função é pública e não há nenhum impedimento legal? Não vou aceitar ser tratado como amoral. Até que me convençam do contrário, acho que estou certo.” Lupi acha mais: que ao levantar o debate sobre o acúmulo de funções presta “um serviço à democracia”. Desmoralizando a Comissão de Ética? “Não, impedindo que amanhã queiram proibir representantes de partidos de ocuparem funções no Executivo. Além disso, se alguém desmoralizou a comissão foi o Marcílio, ao usar os meios de comunicação para criar um caso ridículo com um vício de origem que viciou todo o processo.” E o presidente Lula tem lhe dito o quê a respeito? “Nada, não tocou no assunto. Se pedir que eu saia, eu saio. Se a AGU decidir que a comissão tem razão, saio também e fico com o partido. Agora, sair porque uma pessoa quer e ainda com a pecha de bandido, não mesmo.” O ilusionista Luiz Inácio da Silva já teve até agora tantos ministros da articulação política quantos Fernando Henrique Cardoso teve da Justiça e Itamar Franco da economia. FH nunca acertou a mão na segurança pública, Itamar só se aprumou quando resolveu falar sério e deixou o combate à inflação na mão de especialistas que muitas - quase todas - vezes o contrariaram, mas levaram em frente o plano de estabilidade. Lula da mesma forma só conseguirá ajeitar suas relações parlamentares quando tiver um plano de atuação, parar de acreditar no mito da própria intuição e entregar o jogo para os profissionais, tendo, antes, a humildade de reconhecer que como estrategista é um ótimo animador de multidões. A lógica O que faz mais sentido para a ministra Marta Suplicy, concorrer à Prefeitura de São Paulo ou ficar parada esperando uma brecha para postular a candidatura à Presidência ou ao governo de São Paulo em 2010? Pela lógica do lema segundo o qual quem se desloca tem a preferência, disputar faz mais sentido do que assistir inerte às mesuras palacianas a Dilma Rousseff, cujo capital eleitoral carece de credenciais. Para Marta, se ganhar, excelente. Se não ganhar, ótimo também. Continua ministra, mas aí dona do cacife formado pelo montante (certamente não desprezível) de votos para exibir ao partido. Por ora, Dilma é a maior junto ao palácio, mas Marta poderá se demonstrar a melhor junto ao eleitorado. Se não concorrer, não produz fato algum capaz de lhe garantir destaque no plantel petista de 2010. Amigos, amigos O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o governador de Minas, Aécio Neves, mantêm as melhores relações políticas, administrativas e pessoais. Isso é uma coisa. Outra bastante diferente é o PT aceitar uma aliança com o PSDB para a disputa da prefeitura da capital. O pensamento petista, em resumo, é o seguinte: Aécio já é o príncipe de Minas; se conseguir a coligação, vira o rei. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, janeiro 10, 2008
Dora Kramer - Lupi cobrará "ofensa" na Justiça
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