Surge uma solução para o enigma da identidade
da mulher no quadro de Leonardo da Vinci
Da Vinci pinta a Mona Lisa, num quadro do século XIX: já acharam que ela era um homem |
Na semana passada, estudiosos alemães lançaram luz sobre um dos principais mistérios da história da arte. Eles localizaram uma nova evidência documental sobre a identidade da personagem retratada na Mona Lisa de Leonardo da Vinci – o quadro mais famoso do mundo. Diante da escassez de referências, a questão sempre dividiu os historiadores. A versão mais difundida é a de que a mulher de sorriso enigmático retratada pelo mestre renascentista entre 1503 e 1506 seria Lisa Gherardini, esposa do comerciante florentino Francesco del Giocondo. Ao longo dos séculos, contudo, aventaram-se os nomes de outras damas como fonte de inspiração do pintor. Também se defendeu que Mona Lisa na realidade seria um homem, uma figura feminina idealizada, a mãe de Da Vinci ou até ele próprio. Há dois anos, ao se debruçar sobre um livro que pertenceu a Agostino Vespucci – autoridade florentina que conhecia Da Vinci –, o especialista Armin Schlechter localizou um forte indício de que a retratada é de fato Lisa Gherardini. Em notas nas margens do livro, datadas de outubro de 1503, Vespucci comparou Da Vinci a Apelles, um artista da Grécia antiga. Em seguida, registrou que o pintor trabalhava em três telas naquele momento – uma delas, o retrato de Lisa Gherardini. Esse relato é o elo mais antigo entre a modelo e a pintura.
Antes de se encontrar a anotação de Vespucci, a melhor fonte disponível era o livro do italiano Giorgio Vasari sobre a vida dos pintores renascentistas. Vasari, contudo, escreveu sobre a tela de Da Vinci cinqüenta anos depois de sua realização e sem nunca tê-la visto. Ele comete erros de descrição e informa que a modelo sorria porque Da Vinci havia contratado músicos e bufões para alegrá-la – o que carece de confirmação. Essa questão, aliás, faz lembrar que ainda restam muitos enigmas em torno da Mona Lisa. Alguns são interpretativos, outros são factuais. Os significados do sorriso da personagem e da paisagem por trás dela fazem parte do primeiro grupo. Como nota o historiador Donald Sassoon, num livro de 2001, esse tipo de discussão teve origem no século XIX, quando os românticos ficaram fascinados com a Mona Lisa. Outra questão importante que permanece em aberto é: por que o quadro continuou nas mãos de Da Vinci, e não nas de quem o encomendou? No fim da vida, o pintor o carregou em sua mudança para a França, onde foi acolhido pelo rei Francisco I. A tela acabou no acervo do monarca e mais tarde chegou ao Louvre, onde hoje atrai multidões – que se postam diante dela para contemplá-la, e depois tirar a foto que atesta: "Eu estive lá".