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Crises ameaçam imagem do PlanaltoO Estado de S. Paulo,
Em ano eleitoral, meta é evitar que problemas causem desgaste
Marcelo de Moraes
O governo já se preocupa em tentar evitar que o primeiro semestre de 2008 se transforme numa repetição do desastre político ocorrido no fim de 2007, quando a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) foi derrubada por uma oposição minoritária, provocando queda de arrecadação de R$ 40 bilhões. Janeiro está sendo marcado por uma seqüência de problemas para o governo, que tem provocado insatisfação na base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dentro do Congresso.
A repercussão negativa pelo anúncio do pacote de impostos, as pressões da base por nomeações e liberações de recursos, a ameaça de protestos de servidores pelo congelamento de aumentos salariais, o risco de volta do apagão de energia e a crise provocada pelos casos de febre amarela são vistos no Palácio do Planalto como potenciais fatores de desgaste da imagem do governo, especialmente em um ano de eleições.
Por conta disso, Lula se reuniu várias vezes nos últimos dias com seus principais ministros e líderes aliados no Congresso para cobrar a aprovação das medidas de reposição às perdas da CPMF e exigir providências para impedir que haja racionamento de energia e a febre amarela se espalhe.
Apesar dessa cobrança, Lula ouviu muitas queixas dos aliados nessas conversas. Os líderes reclamam que nem sabiam o conteúdo das medidas anunciadas pelo Palácio do Planalto e terão que apoiá-las, concordando ou não com o conteúdo.
O cenário se tornou mais complicado ainda porque no anúncio do pacote ficou evidente que continua existindo uma falta de sintonia entre ministros da área econômica e os da área de articulação política.
Durante a fracassada negociação para tentar aprovar a prorrogação da CPMF, esse problema contribuiu para fazer com que até aliados ficassem contra a proposta no Senado.
Agora, o anúncio das medidas foi mais além, conseguindo provocar a reação negativa entre os partidos de oposição e também do governo. A oposição considera que o governo quebrou sua palavra, já que prometera discutir aumento de impostos com o Congresso apenas depois da volta do recesso parlamentar, em fevereiro. E os governistas se sentem desprestigiados porque, para compensar a perda de arrecadação com a CPMF, o governo planeja cortar emendas dos partidos da base. Sem falar que precisarão defender o pacote junto à população num ano eleitoral.
Por causa disso, os partidos de oposição trabalham para tentar derrubar as novas medidas, que incluem aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a elevação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) do setor financeiro. A idéia da oposição é justamente aproveitar o clima de confusão e insatisfação na base do governo para atrasar ao máximo a aprovação das medidas pelo Congresso.
“É provável que consigamos impedir a votação das medidas do pacote de governo por um longo tempo. Ainda mais com o governo ajudando”, prevê o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ).
Para tentar contornar as insatisfações, líderes aliados propuseram a Lula que acelere as nomeações para cargos de escalões menores e evite cortes em excesso nas emendas orçamentárias dos aliados. Segundo um ministro, se a base estiver insatisfeita, será difícil votar algo importante no Congresso, ainda mais num ano pressionado pelo calendário eleitoral.
Outra queixa ouvida pelo presidente nas últimas conversas foi sobre o risco de apagão. Após cobrar a adoção de medidas que evitassem o problema, Lula foi questionado pelos auxiliares por entregar, nesse momento, o Ministério de Minas e Energia a um político, o senador Edison Lobão (PMDB-MA). O setor preferia que fosse mantido na função um quadro técnico, como o atual titular, Nelson Hubner. A queixa não levou Lula a recuar da nomeação, mas fez com que decidisse manter os principais cargos do ministério sob o controle de técnicos.