O consórcio perde espaço
Ao longo dos últimos 30 anos (até 2005), os bancos não brigavam pela preferência do tomador do crédito. Eles estavam mais interessados em lucrar com operações de tesouraria: aplicavam seu dinheiro em títulos do Tesouro e esperavam sentados pelos lindos resultados.
Foi um tempo em que os consórcios prosperaram porque os financiamentos para compra de veículos não eram para qualquer um. Os prazos eram curtos e a prestação nem sempre cabia no salário do comprador.
Mas a dívida pública ficou mais baixa em proporção ao PIB, os juros caíram e os bancos tiveram de voltar a um negócio antigo: emprestar dinheiro. Tiveram de reaprender a fazer análise de risco e a administrar garantias, ofícios dos quais estavam esquecidos.
A concorrência aumentou, a caça à clientela também, e os prazos de amortização foram esticados. Hoje há bancos financiando a compra de automóveis em até 90 meses. É só assinar a papelada e sair da concessionária dirigindo um zerinho, sem lances, sem esperas, sem correr o risco de quebra da administradora de consórcios, coisa que tantas vezes aconteceu no passado.
Nessas condições, o comprador passou a enfrentar com mais folga a prestação de seu financiamento, sem ter de arcar com despesas de 10% a 12% do preço do veículo, a título de taxa de administração, para o consórcio arrecadar as prestações e fazer o sorteio mensal.
Assim, um dos resultados da expansão do crédito foi a redução das vantagens de participar de um consórcio de veículos, tal como percebidas pelo consumidor. Ele está agora mais disposto a migrar para o crédito do que esperar por sorteios e pelo jogo dos lances.
Os números refletem esse movimento. No ano passado, o aumento das vendas de veículos no mercado interno foi de 27,8%, como apontam as estatísticas da Anfavea, a entidade que cuida dos interesses do setor. E, como registra o Banco Central, em 2007 (até novembro) as operações de financiamento de veículos cresceram 27%.
Enquanto isso, o movimento dos consórcios de automóveis tomaram outro rumo. Ao final do ano passado, o segmento de veículos leves contava com cerca de 850 mil participantes, 0,9% abaixo do que em dezembro do ano anterior (veja o gráfico), como aponta a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
A retração transparece também de outros números. De janeiro a novembro do ano passado, as vendas de novas cotas de todo o sistema de consórcios (e não apenas no segmento de veículos) foram de 1,55 milhão, 2,7% a menos do que em igual período do ano anterior. E a distribuição de cartas de crédito (contemplações) caiu 7,2%.
Os administradores de consórcio ainda põem certa dose de fé no futuro, baseados no novo aumento do IOF, que encareceu o crédito. Acreditam eles que este será um bom argumento para convencer o consumidor a voltar ao consórcio.
O mais provável é que ele não se deixe impressionar. Se a entrega é imediata e se sua conta bancária puder arcar com a prestação mensal, com ou sem IOF, ele vai em frente.
E, convenhamos, consórcio é uma invenção brasileira. É um sistema que não vinga onde o crédito é farto e funciona.