Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 05, 2008

Celso Ming Comida mais cara

O ano começou alertando para a cavalgada dos preços dos alimentos. Nos últimos trinta dias, as cotações da soja subiram 13,6%.

Quem opera os mercados tem explicações prontas: é a China que impôs um Imposto de Exportação sobre os alimentos que produz; são as previsões de seca na Argentina, grande produtora de grãos... e assim vai. Qualquer cisco no ar é motivo para alta.

Essas razões "pegam" no mercado porque as condições estruturais são de escassez. As estatísticas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês) mostram que, nos dois últimos anos, o consumo mundial de grãos foi maior do que a produção e a diferença teve de ser completada com estoques. E as projeções para este ano mantêm o mesmo quadro.

Ao longo de 2007, os críticos acusaram os projetos de bioenergia de desviar grãos da alimentação para a produção de combustíveis. O impacto nos preços parece inevitável. Mas convém anotar que o uso de grãos para biocombustíveis vai crescer apenas 0,8% ao ano, enquanto o consumo para alimentação cresce entre 2% e 3%. O fator relevante é o aumento do consumo asiático, especialmente do chinês.

E não dá para ignorar a importância da água doce. Um cálculo da Embrapa Meio Ambiente aponta a necessidade de 1,5 mil a 3 mil litros de água para a obtenção de 1 quilo de grãos. Quem exporta alimentos, na prática, fornece água doce.

A teoria econômica clássica diz que a melhor forma de garantir equilíbrio no mercado é deixar que a alta estimule a produção.

Mas isso não acontece de um ano para outro. O aumento da produção agrícola exige investimentos de prazo longo. Desde já pode-se prever alguns efeitos importantes sobre a economia.

(1) Inflação - A alimentação pesa 29,8% no bolso do consumidor médio brasileiro. Se os preços disparam, é inevitável o impacto na inflação, o que exige ação do Banco Central. Os juros podem não cair quanto se pretende.

(2) Mais exportação - Em 2007, a exportação da soja, milho e carnes rendeu US$ 21,1 bilhões ou 13% do total das exportações. Preços mais altos vão esticar esses números.

(3) Encarecimento da terra - O maior retorno para o agricultor puxará os preços das terras agricultáveis. Será inevitável maior conversão de pastagens para produção de alimentos.

(4) Mais insumos - Sementes, fertilizantes, tratores, colheitadeiras e itens assim terão cada vez mais demanda.

(5) Mais infra-estrutura - O Brasil não fará melhor proveito da boa fase se não tiver melhores estradas, portos e condições de armazenagem.

(6) Transgênicos - A maior demanda por alimentos tende a afrouxar a resistência aos geneticamente modificados.

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