Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 10, 2007

Uma festa regada a óleo

O governo converteu em festa política, um quase comício, o anúncio das grandes dimensões estimadas para o depósito de petróleo e gás do Campo Tupi, na Bacia de Santos. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, profetizou a inclusão do Brasil entre os maiores produtores e exportadores de petróleo, dentro de alguns anos, quando começar a exploração comercial da jazida, com potencial de produção calculado entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris. Os deuses foram novamente generosos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - cujo já proverbial "pé quente" tem compensado até certo ponto sua bisonhice administrativa. O governo precisava muito de uma boa notícia na área energética. A notícia apareceu no momento certo. A descoberta do campo havia sido noticiada há mais de um ano, com muito otimismo, mas ainda seria preciso estimar sua capacidade. Os números apareceram poucos dias depois do miniapagão do gás, mais um alerta para o risco presente de uma grave crise energética.

A ministra-chefe da Casa Civil foi escalada pessoalmente por seu chefe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para associar a imagem do governo ao feito da Petrobrás. Com a escolha, cuidaram-se de dois objetivos. O Palácio do Planalto faturou politicamente e a figura da ministra, uma das "presidenciáveis" das forças governistas, ganhou destaque em todos os meios de comunicação, associada a um fato auspicioso.

A reserva pode ser até maior que aquela confirmada pela ministra Dilma Rousseff. Já se admite a hipótese de uma reserva, abaixo da camada de sal, muito maior que a do Campo Tupi. Essa reserva se estenderia desde o litoral do Espírito Santo até o de Santa Catarina, numa distância de cerca de 800 quilômetros, mas essa possibilidade, embora robusta, é por enquanto só uma hipótese, como ressalvou o diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrela.

Entre o cálculo do potencial e a conversão do Campo Tupi numa fonte produtiva há, no entanto, um longo intervalo. Será preciso desenvolver a tecnologia de exploração e investir muito dinheiro. A Petrobrás tem capacidade financeira para um empreendimento desse porte e é uma das empresas mais qualificadas para enfrentar o desafio técnico. Mas, na melhor das hipóteses, a exploração comercial poderá começar em 2013, segundo avaliação de técnicos da companhia. A evolução dos preços no mercado internacional deverá influenciar, naturalmente, os critérios de urgência dos administradores da Petrobrás.

Mas a grande descoberta não altera minimamente os desafios imediatos. O governo precisa garantir ao País a energia necessária a uma longa fase de crescimento econômico. Faltam investimentos em hidrelétricas, por enquanto a opção mais econômica e menos danosa ao ambiente. Mas também falta investir nas alternativas. A Petrobrás não conseguiu cumprir sua meta de produção de gás e a importação continua insuficiente para dar segurança ao País. Quando foi preciso desviar gás para termoelétricas, há poucos dias, indústrias e táxis ficaram desabastecidos.

Em cinco anos, o governo petista foi incapaz de elaborar e pôr em execução um plano eficiente para evitar uma nova crise de escassez de eletricidade. Recorda-se o apagão de 2001 para acusar o governo anterior - ou os anteriores - de falha de planejamento, mas não se extraem do episódio as mais óbvias lições práticas. Pouco se fez para reabilitar a planificação do setor elétrico no primeiro mandato do presidente Lula - quando o Ministério de Minas e Energia era comandado pela atual ministra-chefe da Casa Civil - e continua-se fazendo bem menos que o necessário. Uma nova crise não será evitada com discursos irados do presidente da República, mas com um trabalho competente de atração de capitais privados.

Se isso for feito, o Brasil terá garantida uma das condições necessárias para uma travessia tranqüila até o início da exploração dos novos campos de petróleo e gás. Até lá, talvez já se tenha esquecido a proposta formulada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, na sexta-feira, na reunião ibero-americana no Chile. Brasil e Venezuela, segundo ele, deveriam juntar suas empresas para constituir a Petroamazônia. A nova companhia deveria vender petróleo mais barato aos países pobres e exportá-lo à Argentina em troca de tratores e vacas prenhes.

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