A ministra-chefe da Casa Civil foi escalada pessoalmente por seu chefe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para associar a imagem do governo ao feito da Petrobrás. Com a escolha, cuidaram-se de dois objetivos. O Palácio do Planalto faturou politicamente e a figura da ministra, uma das "presidenciáveis" das forças governistas, ganhou destaque em todos os meios de comunicação, associada a um fato auspicioso.
A reserva pode ser até maior que aquela confirmada pela ministra Dilma Rousseff. Já se admite a hipótese de uma reserva, abaixo da camada de sal, muito maior que a do Campo Tupi. Essa reserva se estenderia desde o litoral do Espírito Santo até o de Santa Catarina, numa distância de cerca de 800 quilômetros, mas essa possibilidade, embora robusta, é por enquanto só uma hipótese, como ressalvou o diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrela.
Entre o cálculo do potencial e a conversão do Campo Tupi numa fonte produtiva há, no entanto, um longo intervalo. Será preciso desenvolver a tecnologia de exploração e investir muito dinheiro. A Petrobrás tem capacidade financeira para um empreendimento desse porte e é uma das empresas mais qualificadas para enfrentar o desafio técnico. Mas, na melhor das hipóteses, a exploração comercial poderá começar em 2013, segundo avaliação de técnicos da companhia. A evolução dos preços no mercado internacional deverá influenciar, naturalmente, os critérios de urgência dos administradores da Petrobrás.
Mas a grande descoberta não altera minimamente os desafios imediatos. O governo precisa garantir ao País a energia necessária a uma longa fase de crescimento econômico. Faltam investimentos em hidrelétricas, por enquanto a opção mais econômica e menos danosa ao ambiente. Mas também falta investir nas alternativas. A Petrobrás não conseguiu cumprir sua meta de produção de gás e a importação continua insuficiente para dar segurança ao País. Quando foi preciso desviar gás para termoelétricas, há poucos dias, indústrias e táxis ficaram desabastecidos.
Em cinco anos, o governo petista foi incapaz de elaborar e pôr em execução um plano eficiente para evitar uma nova crise de escassez de eletricidade. Recorda-se o apagão de 2001 para acusar o governo anterior - ou os anteriores - de falha de planejamento, mas não se extraem do episódio as mais óbvias lições práticas. Pouco se fez para reabilitar a planificação do setor elétrico no primeiro mandato do presidente Lula - quando o Ministério de Minas e Energia era comandado pela atual ministra-chefe da Casa Civil - e continua-se fazendo bem menos que o necessário. Uma nova crise não será evitada com discursos irados do presidente da República, mas com um trabalho competente de atração de capitais privados.
Se isso for feito, o Brasil terá garantida uma das condições necessárias para uma travessia tranqüila até o início da exploração dos novos campos de petróleo e gás. Até lá, talvez já se tenha esquecido a proposta formulada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, na sexta-feira, na reunião ibero-americana no Chile. Brasil e Venezuela, segundo ele, deveriam juntar suas empresas para constituir a Petroamazônia. A nova companhia deveria vender petróleo mais barato aos países pobres e exportá-lo à Argentina em troca de tratores e vacas prenhes.