O Globo |
13/11/2007 |
Tupi é grande e isso é uma excelente notícia, mas a euforia deveria dar lugar a algumas ponderações. Ele não é um campo de gás. É de petróleo. Campo de gás é Mexilhão. Anunciado como supercampo anos atrás, Mexilhão hoje tem apelido de mexilhinho: ele foi ficando menor a cada nova estimativa. Outro ponto importante: se o governo quiser entregar as áreas não licitadas para a Petrobras, terá de mudar a lei. Muito foi dito nestes últimos dias no governo, quando foi anunciada a descoberta de um supercampo de petróleo. A euforia fez muita gente do governo falar sem refletir. Não estamos no limiar de nos tornarmos um grande produtor de petróleo, como alguns árabes. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) hoje nem é mais a que foi um dia: atualmente, produz no máximo 30% do petróleo do mundo; grandes produtores como a Rússia não pertencem ao bloco. A auto-suficiência de petróleo é um alvo móvel. Este ano estamos produzindo 200 mil barris a menos do que a Petrobras havia programado. Nem temos ainda a perspectiva concreta da auto-suficiência do gás, ao contrário do que o presidente Lula disse ontem em seu programa de rádio. Mas, de fato, estamos diante da confirmação da descoberta de uma nova província de petróleo, que será de difícil extração e, a despeito disso, pode ter produção realmente importante. Tupi é um campo de petróleo que, como os outros, está associado ao gás. A produção de gás num campo de óleo depende do ritmo da produção de petróleo. Depende ainda de investimentos pesados na infra-estrutura de transporte. A Petrobras queima hoje de quatro a cinco milhões de metros cúbicos de gás por dia na Bacia de Campos. Queima sem utilização e sobre o qual paga royalties e participação especial como se ele estivesse sendo comercializado. Para usar esse gás seria preciso construir gasodutos, e ele é liberado nas plataformas como subproduto da extração do petróleo em diversas plataformas. Marco Tavares, da Gas Energy, acha que esse gás não é relevante e que o investimento para aproveitá-lo seria grande demais. Outros especialistas, como David Zylbersztajn, acham que a hipótese de aproveitamento deveria ser considerada. É bom lembrar que isso é quase todo o consumo interno da Bolívia. Diferente é quando o campo é de gás mesmo, como Mexilhão. Apresentado como a nossa redenção em gás, o campo ainda não produz, e as previsões de produção encolheram. Será o nosso maior campo quando estiver funcionando, mas não vai nos dar gás no volume necessário para a auto-suficiência. Nem de longe. Por isso, muitos especialistas em energia concordam que talvez seja inevitável investir na Bolívia. O problema com a Bolívia não é o que aconteceu com as refinarias. O Brasil nunca precisou delas. Era o menos importante dos investimentos da Petrobras na Bolívia. O que chocou foi a forma como o presidente Evo Morales conduziu o processo. O grande problema com a Bolívia são os termos dos contratos e a instabilidade das regras. Não há marco regulatório na Bolívia de Morales, e mesmo o contrato assinado com as empresas pode ser mudado a qualquer momento, como o próprio governo boliviano gosta de lembrar. - Mas a Petrobras tem que investir lá por uma razão emergencial: até o fornecimento dos atuais 30 milhões de metros cúbicos/dia está ameaçado. Como as empresas estrangeiras não investiram nos últimos anos, a produção está em queda. Ou seja, o investimento não é para aumentar o fornecimento, é para garantir que ele não caia dos atuais níveis - disse um executivo do setor de petróleo. O campo de Tupi foi licitado na segunda rodada e a Petrobras pagou por ele R$15 milhões. Pouco ou muito? - Não importa, o importante é que a Petrobras e seus parceiros puderam fazer os investimentos maciços que foram feitos - diz Zylbersztajn. O Tupi, encontrado por Petrobras, BG e Petrogal, é vizinho do Carioca, que encontrou também petróleo na prospecção feita por Petrobras, BG e Repsol. Hoje, os estrangeiros, associados ou não à empresa brasileira, representam 25% de todo o investimento. Essas novas áreas promissoras poderiam permitir que o país desse o salto e tivesse realmente grandes investimentos estrangeiros na exploração do petróleo. Isso não diminuiria a importância da Petrobras; aumentaria a densidade dos investimentos. O governo suspender a rodada foi considerado normal pela indústria. O que não é normal é a idéia de tirar os blocos da licitação e entregá-los à Petrobras. Alguns investidores tinham consumido alguns milhões em estudos de sísmica, análise de dados, viagens de especialistas para participar do leilão. Até isso é do jogo. Mas o que é realmente importante é que a Petrobras tem acionistas privados, e a lei manda haver licitação. Entregar a ela sem licitar é ilegal e representará uma transferência indevida de bens para investidores privados. O campo da energia é enorme. Débora Thomé, aqui da coluna, está em Roma participando do Congresso Mundial de Energia. De lá enviou várias notícias que podem ser conferidas no Globo Online (www.miriamleitao.com). Uma particularmente impressiona: o sul-africano Brain Andrew Statham disse que o mundo tem de dobrar a oferta de energia até 2050 para atender à população (um milhão e meio de pessoas a mais) que deverá entrar no mercado consumidor. |
Entrevista:O Estado inteligente
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