O Estado de S. Paulo |
5/11/2007 |
Técnicos do governo têm um monte de explicações, mas está claro que algo saiu errado quando se chega a esta situação: se não chove, falta gás. Isso ocorreu só agora, porque as chuvas haviam sido generosas. No que elas falharam, apareceram os problemas desse novo modelo do sistema elétrico, que deveria ser mais planejado pelo governo e menos de mercado. No final, temos uma combinação de falhas de planejamento e de mercado. Para que o leitor e a leitora não se percam, é preciso contar o ponto de partida, lá atrás, logo depois do apagão de 2001, conseqüência de erros do modelo e de uma enorme seca. Na ocasião, entretanto, sobrava gás. Por contrato, o Brasil tinha obrigação de importar (e pagar) uma determinada quantidade de gás da Bolívia, usasse ou não. E usava muito menos do que previa o contrato. Daí veio a idéia de se construírem as usinas termoelétricas movidas a gás, que ficariam como um seguro do sistema. Seriam acionadas, para gerar eletricidade, só quando os reservatórios das hidrelétricas chegassem a níveis muito baixos. Simples e seguro, parecia. No meio do caminho, porém, aproveitando-se da sobra de gás e do preço mais barato, foi crescendo o consumo industrial, residencial e automotivo. Na outra ponta houve problemas na oferta, a começar pelos contratos com a Bolívia. Em cima disso, veio o atraso no desenvolvimento da produção local pela Petrobrás e deu nisso: quando se soma o consumo de gás na indústria, nas residências, nos carros - consumo crescente em razão da expansão da economia - e se adiciona o uso das termoelétricas, aí não tem gás para todos. Esse é o núcleo do problema hoje. A médio prazo, a solução está na ampliação da produção local - e bem que poderiam oferecer campos de exploração a empresas privadas, já que a Petrobrás não está dando conta do recado - e importar mais, mas não da Bolívia, e sim de países que oferecem o gás liquefeito. Tudo isso demora, de modo que, dando tudo certo, prazos sendo cumpridos, a oferta de gás crescerá lá por 2009, 2010. Até lá, é rezar para chover e torcer para que Evo Morales não corte o fornecimento. Para os consumidores ficará assim: faltará gás em determinados momentos e o preço vai subir. Paralelamente, correm escaramuças. O presidente da Petrobrás, Sergio Gabrielli, diz, por exemplo, que a culpa não é de sua companhia, mas das distribuidoras no Rio de Janeiro e em São Paulo, que se comprometeram a oferecer a seus consumidores mais gás do que podiam. Explica-se: os contratos da Petrobrás com as distribuidoras previam limites de fornecimento. Ocorre que a Petrobrás concordou em vender acima desses limites, bem acima e por bom tempo. Tinha lógica: se estava sobrando gás, isto é, se as termoelétricas não estavam precisando, a estatal procurou outra freguesia. Quanto às distribuidoras, se a Petrobrás, agente principal do sistema, estatal, estava vendendo, então era porque podia, não é mesmo? E, se tinham o produto, as distribuidoras foram atrás de clientes, como fazia a própria Petrobrás, praticamente monopolista na produção e importação. Tudo considerado, está aí mais um gargalo de infra-estrutura. Trata-se de mais uma prova da falta de investimentos essenciais, situação que limita a capacidade de crescimento. O País começa a deslanchar e aí topa com aeroportos superlotados, portos idem, estradas quebradas e, agora, falta de gás. E muita gente temendo a falta de eletricidade. O governo Lula está surfando numa onda boa por causa de um mérito e duas sortes. O mérito: a manutenção e até o aprofundamento da política econômica herdada de FHC, que levou à estabilidade monetária, base da recuperação do crescimento. As duas sortes: Chuvas boas desde 2003, que encheram os reservatórios nestes últimos anos; e o fantástico momento de crescimento da economia mundial, que abriu mercado e preço para as exportações brasileiras. A política econômica continua mantida, mas as sortes podem estar falhando. Já faltou chuva e a economia mundial enfrenta dificuldades. Na ausência da sorte, aparece o que o governo Lula fez de errado (a forte expansão do gasto público corrente) e o que não fez (investimentos públicos em infra-estrutura) nem deixou fazer (investimentos privados). Como no caso do gás. Sem contar que a diplomacia Sul-Sul não garantiu nem o gás dos companheiros. Leiam Greenspan - O livro de Alan Greenspan A Era da Turbulência (Editora Campus) é obrigatório. Além de uma autobiografia, o livro traz informações riquíssimas sobre a História mundial dos anos 40 (quando Greenspan era saxofonista de banda de jazz) até hoje. A parte principal é o relato do “maestro”, como ficou conhecido no mercado, dos seus 18 anos de presidente do Federal Reserve (Fed), o mais importante banco central do mundo. Outra parte imperdível desse livro está nos relatos sobre as grandes crises econômicas e financeiras - e como os governos e as instituições monetárias as administraram. Finalmente, Greenspan apresenta suas reflexões sobre os grandes temas da economia mundial: o ressurgimento do capitalismo de mercado, seus avanços e problemas, inclusive a questão da riqueza, pobreza e desigualdade, o peso da educação no mundo moderno, o efeito China, perspectivas para o mundo - e assim vai. Incluindo o populismo crônico da América Latina. Aprendizado de primeira. E diversão, também, garanto, pelo relato de experiências pessoais. Por exemplo: diz que precisou pedir a sua mulher, Andrea Mitchell, em casamento por três vezes. Nas duas primeiras, ela não entendeu. Ele falava no jargão do Fed. E, na primeira vez que a convidou para ir a seu apartamento, depois de um jantar, disse que ela precisava ver lá um sensacional texto sobre... monopólios. Ela foi. |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, novembro 05, 2007
Se não chove, falta gás- Carlos Alberto Sardenberg
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