Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 14, 2007

Prazeres fatais


Artigo - Ruy Castro
Folha de S. Paulo
14/11/2007

Bem que o tráfico carioca dizia: o crack é mau negócio. É barato, pega o sujeito de saída e mata rapidinho. É droga de pé-de-chinelo -uma pedra custa R$ 5, o efeito passa num instante e o fulano logo precisa fumar outra. Se alguém na boca começa a usar, arrebenta com o esquema. Além disso, "suja" a vizinhança: no desespero por mais uma pedra, o usuário achaca quem puder, inclusive parentes e amigos. Donde, se o Rio passou a década de 90 sem crack, não foi porque a lei reprimiu, mas porque o traficante não quis. Nem precisava, com a cocaína garantindo a féria.
Mas a pressão de grupos de fora, que, dizem, tinham um importante crédito com o carioca, impôs o crack no Rio há três anos. Os resultados já estão à vista: pelo volume de apreensões, pode-se imaginar o consumo. Não demora a ser o principal artigo nas "comunidades", desbancando a cocaína, mais lucrativa, estável e "adulta". No crack, pode haver menores de 10 anos fumando e vendendo.
Se a cocaína está perdendo mercado no morro, sua queda no asfalto é ainda mais acentuada. Em seu lugar, para os meninos de classe média para cima, é a vez do ecstasy. É o principal combustível das festas rave, como indispensável complemento àquela "música" que, provavelmente, seria intolerável sem ele.
Comparado ao crack, que corrompe tudo à sua volta, o ecstasy é quase "limpo". É uma droga sintética, um comprimido, fácil de esconder, de transportar ou de engolir, e sua compra e venda se dão entre iguais. São outras pessoas de classe média que a fornecem, dispensando ao boa-roupa a subida do morro, o contato com a metralha e os riscos inerentes. O efeito também é diferente: pode durar horas. Só o fim é inevitavelmente igual -em pouco tempo, dependência, miséria, solidão, loucura e morte.

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