Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 14, 2007

O gás de Lula


EDITORIAL
Folha de S. Paulo
14/11/2007

O PRESIDENTE Lula prova-se a cada dia mais fascinado com as novas reservas de gás natural e petróleo nas profundezas da plataforma continental. No programa de rádio "Café com o Presidente", saiu-se com este exemplo acabado de desejo convertido em convicção: "Nós estamos trabalhando com a certeza de que, logo, logo, o Brasil também será independente na questão da produção de gás".
Seria o caso de solicitar ao presidente que defina "logo", mesmo sabendo que seu horizonte não costuma ultrapassar 2010. Afinal, não existe por ora a mais remota perspectiva de o país tornar-se auto-suficiente na produção de gás natural. O ceticismo com suas certezas se baseia não em estudos de opositores, mas em previsões da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia.
Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia 2007/ 2016, a demanda nacional por gás, considerados os diversos tipos de consumo, alcançará pelo menos 110 milhões de metros cúbicos por dia (m3/ dia) em 2010. Em 2016, o mínimo de 140 milhões de m3/ dia.
Na ponta da produção em território brasileiro, a EPE projeta 74,8 milhões de m3/dia, em menos de três anos, e 91,8 milhões de m3/dia, em uma década. Calcula-se, portanto, um déficit de 35,2 milhões de m3/dia no último ano do mandato de Lula. Para 2016, faltariam 48,2 milhões de m3/dia. A diferença teria de ser suprida pela importação, o que fulmina a tese da "independência". No documento da EPE, estimam-se 55,1 milhões de m3/ dia importados em 2010 e 2016.
Conclui-se daí que Lula já conta com os 5 bilhões a 8 bilhões de barris do campo Tupi, que não foi computado pela EPE. Nem poderia, porque não se sabe ainda quanto há de gás natural associado com petróleo nessa jazida, muito menos qual o custo da logística para torná-lo disponível onde houver demanda.
O presidente deveria moderar seu entusiasmo olhando para trás: sempre há o risco de se reduzirem as estimativas iniciais de produção, como já ocorreu com o gás da bacia de Santos.

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