Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 15, 2007

Petrobrás, Vale e a lista do ''''NYT''''


Roberto Macedo


Em 20 de outubro, o jornal The New York Times (NYT) publicou matéria listando as 20 empresas de maior valor segundo a cotação de suas ações nas bolsas de valores mundiais. A lista foi apresentada para os anos de 1989, 1999 e 2007. Nos dois primeiros, com levantamentos em 31 de dezembro; no terceiro, com as cotações do dia 17 do mês passado.

Listar empresas dessa forma é procedimento conhecido também como o exame da sua capitalização de mercado. É critério tipicamente capitalista e a presença na lista é meritória na permanente corrida do capitalismo mundial.

E mais: identificados os países onde estão as sedes das empresas listadas, surgem os que nesses momentos estiveram ou estão na vanguarda desse capitalismo. Não tanto como os maiores, mas como os que mais chamam a atenção pela velocidade de seu crescimento econômico e/ou pelo valor que os mercados de capitais, em particular o próprio, atribuem ao desempenho de empresas suas. A lista também indica o desempenho dos setores a que elas pertencem.

Assim, em 1989, 14 das 20 maiores empresas eram do Japão, que então se consagrava como um novo ícone do capitalismo, jogando com empresas de vários setores, predominantemente bancos, inclusive de investimentos, e também de telecomunicações, siderurgia, indústria automobilística e eletroeletrônicos. Nessa época o mercado de capitais japonês estava em euforia, com forte valorização das ações. Na lista de 1999 só apareceram três empresas japonesas e nenhuma está na última.

Em 1999, também com 14 empresas, os EUA dominaram o elenco, com destaque para suas empresas de alta tecnologia e de comunicações, como Microsoft, Cisco, Intel e AOL. Nessa época a valorização de suas ações era tal que muitos analistas identificaram uma bolha nesse setor. Depois de algum tempo, ainda que sem estourar, pelo menos murchou bastante.

Na lista deste ano, que alcançou empresas com valor de mercado igual ou superior a US$ 203 bilhões, a nova estrela é a China, com oito empresas na lista, também de setores variados, como petróleo, bancos, seguros, telecomunicações, construção e energia. Além do forte crescimento do país desde a década passada, a presença da China também reflete o acentuado e mais recente interesse por seu mercado de ações, em particular da população local. As ações subiram tanto que também já se fala de mais uma bolha. Aliás, a lista do NYT colocou em primeiro lugar a Exxon Mobil, com capitalização de US$ 525 bilhões, e em segundo a Petrochina, com US$ 429 bilhões. Depois que a relação foi preparada, a capitalização de mercado da segunda subiu tanto que ultrapassou US$ 1trilhão, o que a colocaria no topo de uma lista atualizada.

Dos demais países que com a China formam o grupo dos BRICs, ou seja, Brasil, Rússia e Índia, só a segunda aparece, com apenas uma empresa. Uma pergunta que surge é por que empresas brasileiras não chegaram à lista, embora duas delas, a Petrobrás e a Vale do Rio Doce, sejam sabidamente de grande porte por critérios internacionais. Além disso, nos anos recentes suas ações tiveram grande valorização no mercado, e particularmente em dólares, dada a valorização também do real.

No dia 8 deste mês, depois de anunciado o enorme potencial do campo de Tupi, que a Petrobrás encontrou na Bacia de Santos, num único dia as ações ordinárias dessa empresa subiram 14,45% e sua capitalização alcançou US$ 221,9 bilhões, credenciando-a a entrar na lista. Depois disso, até o dia 13, essas ações caíram 2,9%, sem contar variações cambiais. Supondo uma queda proporcional na sua capitalização, ela permaneceria numa lista atualizada.

Também segundo o noticiário, logo em seguida ao anúncio desse campo as ações da Petrobrás caíram um pouco de valor porque investidores realizaram lucros que obtiveram anteriormente e, ainda, porque após a euforia que veio com o anúncio houve a percepção de que há muito mar e chão pela frente e por baixo até essas reservas produzirem lucros adicionais. Também teria havido frustração com os resultados da empresa no trimestre concluído em setembro. Neste caso, mais uma vez foi mencionado o seu fundo de pensão, de presença freqüente no noticiário sobre perfurações nas contas da empresa.

Recentemente, ao falar das condições de fiscalização das empresas que no Brasil atuam no transporte aéreo, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que ela existe, mas questionou sua eficácia, o que gerou um debate semântico sobre o que afirmou. Nós, economistas, gostamos de discutir eficácia relativamente à eficiência, e nessa linha se pode dizer que a Petrobrás se destaca mais pela primeira do que pela segunda. Ou seja, funciona, mas poderia funcionar melhor, no sentido de obter melhores resultados dos recursos de que dispõe. O alto preço do petróleo e a condição privilegiada que a empresa tem no Brasil, contudo, contribuem para esconder ineficiências e há, assim, a perspectiva de a empresa continuar na lista.

No mesmo dia 8, a Vale apresentou um valor de mercado que estimei em US$ 167 bilhões, a partir do noticiário sobre o assunto. Isso ainda a deixa algo distante da lista, mas essa empresa também tem condição de alcançá-la nos próximos três anos, se continuar crescendo com a mesma eficácia e eficiência que vem marcando sua fase pós-privatização e contar, ainda, com o sucesso de seus clientes em ganhar mercados e ampliar a demanda por seus produtos.

Com a Petrobrás chegando a essa lista das 20 maiores empresas mundiais e a Vale em condições de fazer isso em poucos anos, estamos diante de um marco importante da história econômica do País e de sua inserção no capitalismo global.

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