Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 15, 2007

Petróleo, entusiasmo e realismo

Alberto Tamer

A descoberta do campo gigante de petróleo, na Bacia de Santos, confirma o alto nível técnico da Petrobrás que lidera mundialmente a tecnologia em exploração em água profunda. Tudo indica estarmos diante de um supercampo, com reservas entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris, mas dependendo de novas perfurações nas proximidades da área, a Petrobrás poderá estar diante de algo muito maior, uma nova província petrolífera com possibilidade de ter 50 bilhões de barris. Por enquanto, porém, os esforços serão concentrados para dimensionar o verdadeiro potencial do poço Tupi. Decididamente, isso muda a nossa posição no cenário petrolífero mundial, pois as reservas equivalentes de petróleo e gás poderão passar de 14,4 bilhões de barris para 19,4 bilhões ou 22,4 bilhões, se a área tiver 8 bilhões de barris. Foi, sem dúvida, um grande feito.

SEM CHOQUE DA OFERTA...

A nova descoberta deve ser vista com entusiasmo e realismo porque por ser de petróleo leve, ao contrário do que temos até agora, possibilitará a auto-suficiência efetiva no abastecimento interno. Atualmente, exportamos petróleo pesado, de menor valor de mercado, e importamos o leve, além de derivados de maior valor, porque as refinarias da Petrobrás, construídas há décadas, foram desenhadas para o óleo de alta qualidade, que pensávamos descobrir. Em um caso de choque de oferta, o que é muito provável, teremos sempre o nosso petróleo.

...COM CHOQUE DO PREÇO

Temos de manter realismo por dois motivos: o novo campo começará a produzir em cinco ou seis anos; a curto prazo não nos livrará da dependência externa e, muito menos do gás, que a Petrobrás deixou de explorar no passado, onde já havia sido descoberto há mais de 5 anos, em campos rasos na bacia de Santos, como assinalou a coluna. O Brasil continua com a ameaça de racionamento de energia, contra a qual ainda não está preparado.

É PRECISO CORRER

Mesmo assim, terá de haver uma corrida para alcançar e manter a auto-suficiência. Hoje, consumimos 1,8 milhão de barris por dia e se a economia continuar a crescer em torno de 5%, o consumo irá elevar-se a 2,5 ou 3 milhões de barris/dia, nos próximo quatro anos. E a Petrobrás vai ter de se esforçar muito para conseguir manter a produção, pois o novo campo ainda não estará produzindo. Em oito anos, quando a nova reserva estiver em plena produção, a do campo de Marlin estará decrescendo. É o que afirmou o geólogo Márcio Mello, ao Aliás, de domingo, num dos mais lúcidos e equilibrados esclarecimentos sobre o assunto. Ele declara que temos 50 bilhões de barris no novo campo e, agora, acrescenta, "é perfurar, perfurar".

A história de ir para a Opep é conversa, pois teremos de consumir todo o petróleo produzido, até a última gota.

OFERTA NÃO REDUZ PREÇO

A existência de grande oferta de petróleo nacional não afasta o risco da alta dos preços, hoje acima de US$ 90 o barril. Isso porque a Petrobrás pratica internamente o preço internacional, isto é, transfere para o mercado interno os US$ 90 transformados em reais. Na verdade, o custo para produzir um barril é de US$ 7,5, segundo o seu último balanço. Por enquanto, o preço externo não é transferido para óleo e gasolina, compensado pela valorização do real.

Como dono das reservas nacionais, o governo recebe uma boa parte sobre o preço do barril extraído e cobra pesada carga de imposto sobre a gasolina e o diesel, que chega a ser, em média, de 45%. Se o governo não decidir abdicar dessas duas fontes de renda - o que não é nada provável -, certamente o preço externo do barril terá de ser repassado para o preço interno dos derivados.

Outra saída seria a Petrobrás arcar com a diferença dos preços externo e interno. Ela assumiria a perda e repassaria apenas os custos em reais. Isso é agora inviável diante do elevadíssimo custo de pesquisa e produção dos novos campos com mais de 5 quilômetros de profundidade. Estima-se que o custo de extração do barril no novo campo seja de US$ 30, viável diante dos preços externos atuais.Mas isso iria pesar sobre a extração de hoje, a US$ 7,5 o barril.

Resumindo, a descoberta da grande reserva de petróleo livra o Brasil de um choque externo de oferta, mas não de um choque nos preços, como vemos neste ano. Entre meados de agosto até hoje, em apenas dois meses, portanto, o preço do barril aumentou em 40%. Não há valorização do real que compense a alta. Ou o governo e a Petrobrás passam a receber menos, ou os preços internos da gasolina, do óleo combustível, do diesel e da nafta terão de aumentar e ser repassados para a inflação, como já acontece na Europa. Com a descoberta da Petrobrás teremos petróleo, mas só com boa vontade do governo, poderemos fugir do aumento do preço externo.

E O ETANOL?

Vai bem. Com o petróleo, muito bem. Não precisamos mais do etanol, dizem. Pura tolice. O etanol gera empregos, estimula a indústria, atrai investimentos, interna recursos, é uma uma fonte renovável, enquanto o petróleo não. Mas continua tendo uma importância vital na substituição parcial de gasolina. Não há choque nenhum entre petróleo e etanol, há espaço para ambos, porque só um derivado é substituível: a gasolina! E se sobrar gasolina, será mais rentável exportá-la para continuar importando petróleo leve, como o de Santos, que teremos em seis anos. Assim, reduziríamos o déficit da conta petróleo (importação menos exportação), hoje da ordem de US$ 5 bilhões. É muito. Não há, portanto, ainda, a tão aspirada auto-suficiência.

* E-mail: at@attglobal.net

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