Com a eleição municipal batendo à porta, o Rio procura um sucessor para o prefeito Cesar Maia. A 11 meses da escolha, os partidos peneiram nomes e pretensões. Encomendam pesquisas para desvendar a alma do carioca, o que quer, o que espera, em quem pensa, o que teme mais além da violência do dia-a-dia. Nenhuma sigla tem nome no embornal, nenhum dos políticos jogados até agora à arena entusiasma os portadores de títulos de eleitor. A conversa nem passa ainda por mesas de botequins. Mas borbulha ímpetos nas legendas.
A História vai registrar a campanha de 2008 como a segunda sem herdeiros de Leonel Brizola nos palanques, a primeira sucessão municipal distante da carismática figura do caudilho, seus dizeres, seu sotaque carregado de vernáculos gaúchos, frases de efeito e dísticos irônicos aos adversários.
Desde 1982, quando se elegeu governador numa campanha tumultuada e numa contagem de votos marcada por acusações de fraudes, Brizola permeou a política fluminense. Criou herdeiros que se transformaram em desafetos, adversários que viraram aliados. Cesar Maia foi invenção sua, assim como Marcello Alencar, Anthony Garotinho. Moreira Franco, que ganhou do gaúcho a alcunha de "Gato Angorá", o sucedeu com um discurso oposicionista, mas foi um dos últimos a conversar com ele antes de sua morte, em 2004.
Cesar e Garotinho ainda esperneiam na política, mas beiram o ocaso. O prefeito, depois de três mandatos, dois consecutivos, perdeu o gosto pela administração e jamais se interessou em apadrinhar promessas eleitorais. Em 1995, ao fim da primeira temporada no Palácio da Cidade, jogou com Ronaldo Cezar Coelho, mas ficou com Luiz Paulo Conde para derrotar Sérgio Cabral, que se dava com quase todos e não era de ninguém. Depois, Cesar rompeu com a criatura e voltou ao poder, depois de perder para outro brizolista, Anthony Garotinho, a campanha ao governo estadual em 1998.
Em 2002, depois de brincar com a candidatura de Eduardo Paes, usou Solange Amaral para dar seu recado na disputa pelo Palácio Guanabara. Ela nem chegou a fazer vento nos cabelos de Rosinha Matheus, que enfrentou a petista Benedita da Silva e manteve os Garotinho no poder. Em 2004 deu a entender que não tentaria a reeleição, alimentou a vaidade de Eider Dantas só para levantar poeira e atrapalhar os adversários. Saiu ele mesmo e levou até agora.
Em 2007, brincou com um aqui, outro acolá, mas juntou-se à aventura derrotada da juíza aposentada e deputada federal Denise Frossard. Com Sérgio Cabral no comando do Estado, ensaiou uma aproximação, falaram até em acordo para a prefeitura no ano que vem. Nos bastidores, Cesar somou-se ao ex-adversário Garotinho, manobra para evitar que o ex-afilhado Eduardo Paes se fortaleça com o apoio de Cabral, e defende, mais uma vez, a vaga para a aliada Solange Amaral. Com quem vai, de verdade, ninguém ainda consegue adivinhar.
"O adiamento de uma luta incerta é sempre uma vitória", ensinou o gaúcho Pinheiro Machado. Cesar abraça a idéia. Garotinho também. Empurram o tempo para se manter em evidência. Ou vão, como doutrinava Brizola, "costeando o alambrado" até encontrar a falha na cerca para invadir a pastagem do vizinho. Como Sérgio Cabral não freqüentou essa escola, podem se surpreender ao atravessar o arame farpado. O terreno já pode estar arado.
[ 13/11/2007 ]