Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 10, 2007

O botão de desligar chatos

Um clique e o chato se cala!

O aparelho que, ao toque de um botão, cala um celular
incômodo em um raio de 9 metros é ilegal, mas faz sucesso
na Inglaterra e nos Estados Unidos. Abaixo, algumas idéias
de aparelhos para suprimir chatos com apenas um clique


Rafael Corrêa

Quase metade da população mundial usa telefones celulares. Na mesma proporção em que esses aparelhos se popularizaram, cresceu a turma dos chatos que dão de ombros para as regras da boa educação e falam alto ao celular no cinema, no teatro, em restaurantes e outros locais públicos. Já é possível combater essa turma. Basta comprar um bloqueador portátil de celular, dispositivo que fica escondido no bolso e impede o funcionamento dos telefones móveis num raio de 9 metros. Ao toque de um botão, o aparelho emite um sinal de rádio na mesma freqüência em que os celulares funcionam, criando um ruído na comunicação entre os telefones e as antenas das operadoras. Imediatamente o aparelho perde a conexão com a rede e passa a mostrar a mensagem "sem serviço". Como o mundo não é perfeito, na maioria dos países o uso de bloqueador de celular é restrito às forças de segurança e a presídios. Nos Estados Unidos, sua utilização não autorizada é considerada crime e está sujeita à multa de até 11 000 dólares. No entendimento das autoridades americanas, as operadoras de telefonia são lesadas pelos bloqueadores, já que pagam pelo direito de usar a freqüência de comunicação dos celulares e oferecer o serviço a seus clientes.

Os franceses pensam de modo diferente. O bloqueador de celular é permitido desde 2004 em casas de shows, cinemas e teatros. No Brasil, seu uso é proibido. A Anatel, agência reguladora da área de telefonia no Brasil, segue o mesmo raciocínio das autoridades americanas. A multa para o uso de bloqueadores no país pode chegar a 10 000 reais e acarretar até quatro anos de prisão. Mesmo com as proibições impostas pelos governos, é muito fácil adquirir um aparelho desses. Basta procurá-los em sites especializados na internet. O inglês Victor McCormack, dono do site londrino PhoneJammer, disse a VEJA que tem vendido uma média de 100 bloqueadores por ano a brasileiros e que a clientela está aumentando. "Até o fim de 2007 estamos próximos de vender o dobro", ele informa. Segundo McCormack, a maioria dos dispositivos vai para empresas que os revendem no Brasil. Os americanos, por sua vez, compram 5 000 desses aparelhos por ano do site PhoneJammer. Seu preço varia conforme o modelo e a potência. Um bloqueador portátil custa em torno de 150 dólares. Já um dispositivo mais potente, com um alcance de 300 metros, sai por 4 000 dólares. Há sites brasileiros que oferecem bloqueadores portáteis a 1 300 reais.

O bloqueador portátil de celular é uma resposta prática à vontade que todo mundo tem de eliminar os problemas de convivência nas grandes cidades sem se desgastar com isso. Quem não adoraria ter um dispositivo mágico para acabar com os congestionamentos ou silenciar o vizinho barulhento? "A questão dos bloqueadores de celular indica que vivemos um momento de pouca comunicação entre as pessoas", diz o psicólogo Fabio Iglesias, pesquisador do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. "O bloqueador serve para evitar o confronto com o outro", ele completa. Iglesias estudou o comportamento das pessoas em filas, outro incômodo das grandes cidades, e concluiu que a maioria prefere se omitir a discutir com os fura-filas. Para explicar o conflito entre os que falam alto ao celular e os que usam os bloqueadores, o filósofo Roberto Romano, da Universidade Estadual de Campinas, cita uma analogia criada no século XIX por seu colega alemão Arthur Schopenhauer. Ele comparava as sociedades humanas com as comunidades dos porcos-espinhos. Esses animais precisam estar juntos para trocar calor e sobreviver, mas, quando chegam muito perto uns dos outros, acabam se espetando. Diz Romano: "Nas situações de conflito, as pessoas se sentem autorizadas a usar de qualquer artifício para se preservar, nem que seja algo arbitrário, como desativar o celular alheio".

FUMO PASSIVO
O cerco das leis e das campanhas antitabagismo ainda é insuficiente para acabar com o mal causado pelo cigarro aos não-fumantes. Que tal um aparelho que apaga brasas a distância?
ESPERA EM CONSULTÓRIOS MÉDICOS
Quem nunca se imaginou sendo atendido na hora marcada pelo médico? Um clique e a fila de espera some.


VIZINHOS BARULHENTOS
O barulho do mal-educado que mora ao lado só perde para o ruído do trânsito nas pesquisas sobre poluição sonora. Um botão para acabar com a festa do vizinho é um sonho antigo.
CONGESTIONAMENTOS
Uma pesquisa recente mostrou que os engarrafamentos são o maior motivo de irritação dos brasileiros no trânsito. Quem não se imagina abrindo uma passagem no congestionamento da mesma maneira que Moisés fez no Mar Vermelho?

Com reportagem de Marcio Orsolini

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