Mudanças estruturais como as experimentadas pelo Brasil costumam levar muito tempo para ser assimiladas, particularmente pelos que mais sofrem os seus impactos. Uma prova é o debate sobre a valorização cambial.
Muitos parecem ter em mente o antigo regime de câmbio fixo, em que o governo estabelecia a taxa cambial. Ou a economia fechada, na qual a competitividade dependia mais de desvalorizações da moeda e de subsídios do que de eficiência.
A valorização cambial decorre de vários fatores, entre os quais (1) o superávit estrutural no comércio exterior; (2) a solidez dos fundamentos econômicos, que melhoraram a percepção de risco do País; (3) a forte liquidez internacional; (4) a confiança na estabilidade e no potencial da economia, que atrai investimentos estrangeiros diretos e para o mercado de capitais; (5) a isenção do Imposto de Renda na aquisição de títulos públicos federais por estrangeiros; (6) a desvalorização da moeda americana; (7) o diferencial entre as taxas de juros interna e externa.
A essa realidade se associa a antecipação, pelos mercados, dos efeitos da provável obtenção do grau de investimento, que se espera para 2008. A conseqüente elevação do fluxo de dólares para nossa economia é a colheita dos frutos do amadurecimento institucional, das pesquisas da Embrapa (que elevaram a competitividade do agronegócio), da estabilidade macroeconômica e dos bons ventos na economia mundial.
A valorização cambial é a conseqüência natural desse processo. Mesmo que quisesse evitá-la, o governo não poderia, sem causar efeitos indesejáveis como uma inflação maior. Erra quem a atribui ao diferencial dos juros, pois sua queda sistemática nos últimos dois anos não arrefeceu a valorização nem o fluxo, que de US$ 30,6 bilhões em 2006 saltou para US$ 76,7 bilhões de janeiro a setembro de 2007. Deve passar de US$ 80 bilhões no ano.
O novo vilão é a isenção do IR, cuja revogação se reivindica. Não há dados sobre o respectivo fluxo, mas a participação dos estrangeiros no estoque de títulos federais passou de 0,74% no início de 2006 para 4,52% em agosto último. A revogação mostraria um país sem regras estáveis e desconheceria os benefícios da isenção.
A isenção eliminou a bitributação dos rendimentos (aqui e no país de domicílio do investidor). O Brasil foi um dos últimos mercados emergentes a adotar a prática. Ela contribuiu para que o Tesouro passasse a vender papéis de 40 anos e a lançar títulos de 20 anos em reais no exterior. Várias empresas brasileiras venderam lá fora papéis em reais. O Brasil se livrou do "pecado capital" (não poder vender títulos no exterior em sua própria moeda).
De lambujem, criamos novos incentivos para a condução de políticas econômicas responsáveis. Caiu nossa vulnerabilidade a choques externos, que nos impunham grandes sacrifícios. Nada sofremos com a crise internacional recente e estamos mais bem preparados para suas eventuais conseqüências.
A valorização cambial penaliza exportadores, mas a saída não pode ser o retorno ao passado, que gerou sérios efeitos colaterais. É preciso pensar em soluções duradouras como a da melhoria da infra-estrutura e do sistema tributário.
A dificuldade de entender as novas realidades se estende à de perceber as respectivas mudanças dinâmicas em uma economia não-fechada. Por exemplo, diz-se que a redução do superávit comercial prejudicará o crescimento do PIB, sem considerar o efeito do aumento do consumo doméstico.
A queda "ousada" dos juros por certo depreciará o câmbio, mas pode aumentar a inflação. A taxa de câmbio real, a relevante para o exportador, ficaria inalterada ou se valorizaria. A alta dos preços corroeria a renda dos trabalhadores, diminuiria a confiança dos consumidores e reduziria o consumo doméstico.
Não será surpresa se houver quem torça para que não ganhemos o grau de investimento, na equivocada suposição de que haverá uma enchente de dólares. Na verdade, os mercados estão antecipando o evento. O fluxo já aconteceu. A nova classificação gerará efeitos positivos de longo prazo, não uma inundação de dólares no curto prazo.
Espera-se que o debate e o estudo desses temas permitam melhorar a percepção de certos fenômenos econômicos e inibir a adoção de medidas aparentemente sábias, mas na verdade inconseqüentes.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
novembro
(510)
- Míriam Leitão - A verdade de L.
- Merval Pereira - Disputa de poder
- Luiz Garcia - No Pará, no Rio
- Eliane Cantanhede - "Chique"
- Dora Kramer - Fora da agenda
- Clóvis Rossi - O câncer e o PT
- Celso Ming - Vento do medo
- Muy amigos...
- A truculência de Chávez
- Caras emoções baratas - Nelson Motta
- Lula não confia nos oprimidos: sobe hoje a favela ...
- Sarkozy: 'Distúrbios não são crise social'
- 30 de novembro
- O ataque fascistóide de Lula ao DEM
- OS PATIFES DAS ZAMÉRICAS
- Alberto Tamer - Brasil, feliz, não vê mais nada
- O pior entre os melhores
- Míriam Leitão - Mundo novo
- Merval Pereira - A reboque
- Eliane Cantanhede - Chávez e as Farc
- Dora Kramer - Tiros no peito
- Clóvis Rossi - Exaltação da mediocridade
- Celso Ming - Força nova
- Contra o interesse nacional
- Clipping 29 de novembro
- Míriam Leitão - Em três dimensões
- Merval Pereira - Continente em transe
- Dora Kramer - Debilidade funcional
- Celso Ming - A salvação vem das Arábias
- Clipping 28 de novembro
- AUGUSTO NUNES -Três retratos 3x4 da geléia tropical
- FHC rebate Lula e diz que ?não pode haver preconce...
- DORA KRAMER Notícias do palácio
- Merval Pereira - O plano B
- Míriam Leitão - Licença para gastar
- Clipping 27 de novembro
- Rubens Barbosa,O DIFICIL CAMINHO DA MODERNIZACÃO
- Clipping 26 de novembro
- Ainda FHC, Lula, os educados e os tontons-macoutes...
- DANUZA LEÃO
- FERREIRA GULLAR Rumo à estação Lulândia
- ELIANE CANTANHÊDE Exceção
- Clovis Rossi-O diploma e o lado
- Miriam Leitão Ampliar o debate
- O GLOBO ENTREVISTA LULA
- O GLOBO ENTREVISTA Luiz Inácio Lula da Silva
- Merval Pereira Submarino nuclear
- João Ubaldo Ribeiro Aqui da minha toca
- DANIEL PIZA
- Estadão entrevista Ronaldo Sardenberg
- Alberto Tamer Dólar e petróleo ameaçam o Brasil
- Mailson da Nóbrega
- Democracia ferida
- Celso Ming O desequilíbrio do ajuste
- DORA KRAMER Sem o cheque, resta o choque
- Vergonha nacional
- Tucanos perdidos na floresta
- Quem ganhou com as privatizações
- Entre aloprados e pajés
- Tratamentos a Lula e Azeredo contrastam
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: Saulo Ramos
- MILLÔR
- Stephen Kanitz
- Radar
- André Petry
- Diogo Mainardi
- Roberto Pompeu de Toledo
- O PSDB renova seu discurso de oposição
- Projeto liquida com o cargo de suplentes
- A queda do ministro Mares Guia
- Renan Calheiros: a novela continua
- Adolescente é estuprada em cadeia do Pará
- Fechado o restaurante do denunciante do mensalinho
- França Sarkozy enfrenta sindicatos com o apoio ...
- Desbaratada a quadrilha de Fernandinho Beira-Mar
- Nos EUA, quem bebe e dirige é punido
- O carro islâmico da Malásia
- Grandes lojas aderem ao ritmo fast-fashion
- O celular que funciona como cartão eletrônico
- A escova de dentes que dispensa a pasta
- A Amazon lança aparelho que recebe livro digital
- Encontrada a gruta de Rômulo e Remo
- Thiago Pereira, nosso recordista mundial de natação
- A guerra contra a garrafa plástica de água mineral
- Estudo põe em xeque o programa brasileiro antitabaco
- Agora, a FDA aperta o cerco contra o sal
- Células-tronco são obtidas a partir de células da ...
- O que pensam os militares brasileiros
- Michel Schlesinger: um jovem na Congregação Israelita
- O significado da desvalorização do dólar
- Interferência política e concessão de empréstimos
- As opções de cirurgia para a correção da vista
- Cuidados com os olhos no verão
- Einstein – Sua Vida, Seu Universo, de Walter Isaacson
- A Economia em Machado de Assis
- A Mídia do Golpe e A Mídia do Contragolpe
- Lula reage a FHC — “reservadamente”, é claro...
- Merval Pereira Reforçando a defesa
- Celso Ming Vai mudar a economia?
-
▼
novembro
(510)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA