Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 15, 2007

KENNETH MAXWELL O rei e o coronel

O REI JUAN Carlos, da Espanha, já enfrentou coronéis antes de seu agora famoso entrevero com o coronel Hugo Chávez durante a 17ª Cúpula Ibero-Americana, no Chile, uma semana atrás. Em 23 de fevereiro de 1981, o coronel Antonio Tejero, da Guardia Civil, a força paramilitar espanhola, invadiu o Parlamento com seus comandados. Diante de um governo tornado refém e de unidades militares de lealdade duvidosa, Juan Carlos agiu para alinhar as Forças Armadas com a causa da democracia e impediu o golpe. Foi um momento decisivo na transição democrática espanhola, e consolidou o prestígio da nova monarquia.
O rei agora está mais velho (com quase 70 anos), e parece que se tornou consideravelmente menos paciente. Desta vez, diante da diatribe do coronel Chávez contra José María Aznar, ex-chefe do governo espanhol, o usualmente fleumático monarca perdeu a calma. Disse zangadamente a Chávez algo que muita gente deve ter sentido vontade de dizer ao longo dos anos: "Porque no te callas?".
Pode não ser a mais monárquica das expressões, decerto, mas veio a calhar, e valeu muitos aplausos a Juan Carlos em seu país. Mas o rompante do rei propiciou ao coronel Chávez um precioso momento "bolivarista": o rebelde venezuelano montado em seu (metafórico) corcel enquanto o rei da Espanha lhe apontava o dedo -uma excelente cena de teatro, 200 anos depois da luta dos venezuelanos por independência do domínio espanhol. Mas, com certeza, não era essa a imagem que os inventores das conferências de cúpula ibero-americanas tinham em mente para a era doce e esclarecida do pós-colonialismo.
A única coisa surpreendente quanto a isso tudo é que ninguém tenha perdido a paciência antes durante esses tediosos eventos. As conferências de cúpula se tornaram um completo desperdício de tempo e dinheiro, por falta total de propósito ou conteúdo reais. E só servem para provocar problemas nas ruas e oferecer uma plataforma perfeita a populistas demagógicos como Chávez. Um fórum público movido por palavras, e não por atos, tende inevitavelmente a agravar disputas em lugar de resolvê-las. Ao menos os conclaves ibero-americanos não exigem, ao contrário das conferências da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que os participantes vistam, ao final, camisas coloridas ou trajes "tradicionais" para a cerimônia e foto de encerramento. Mas isso oferece pouco consolo.
Chegou a hora de deixar de lado o aparato das conferências de cúpula para dar a todos nós, e especialmente ao rei Juan Carlos, um repouso mais que merecido.

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