Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 16, 2007

Justine Henin, a baixinha número 1 do tênis

A baixinha vence as gigantes

Tenista número 1 do mundo, Justine Henin
precisou superar não apenas a altura das rivais,
mas também a asma e um passado sofrido


Alexandre Salvador


Javier Soriano/AFP
Henin: pouca envergadura, mas agilidade fora de série


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Em um esporte iluminado nos últimos anos por longilíneas atletas russas, a tenista belga Justine Henin é uma notável exceção. Franzina e asmática, ela consagrou-se pela terceira vez como a melhor do circuito internacional de tênis feminino. Vencedora de dois dos quatro principais torneios (Roland Garros e o Aberto dos Estados Unidos) de 2007, ela encerrou a temporada com um total de dez títulos. O último foi o Masters de Madri, disputado pelas oito melhores tenistas do ranking. A vitória final, no domingo 11, foi sobre a russa Maria Sharapova, dublê de tenista e modelo cuja altura é 21 centímetros superior à de Justine. Tamanho é documento no tênis? Quem vê a belga na quadra percebe logo que isso é bastante relativo. O repertório de jogadas perfeitas e a capacidade de surpreender as adversárias fazem dela uma jogadora superior às grandonas do circuito – e explicam seu espetacular índice de 63 vitórias em 67 partidas em 2007.

Uma tenista mais alta ou mais forte usufrui algumas vantagens, principalmente para sacar ou para bloquear a bola próxima à rede. Na partida entre Venus Williams e Justine no Aberto dos Estados Unidos, em setembro, o saque mais rápido da americana atingiu a velocidade de 196 quilômetros horários. O da belga não ultrapassou 188 quilômetros por hora. Fora isso, o tênis continua sendo um esporte no qual a técnica e a tática se sobrepõem à constituição física. A pequena belga sabe bater na bolinha de forma a compensar a estrutura física menor. Seu repertório de golpes é mais diversificado se comparado ao de jogadoras possantes, como Venus Williams. Sua capacidade de identificar os pontos fracos das adversárias e explorá-los ao máximo é excepcional. "Ela sabe ler muito bem as dificuldades das jogadoras e atacar justamente onde elas não gostam", disse a VEJA Larri Passos, treinador de Gustavo Kuerten.

Justine tem uma história atribulada. Sua mãe morreu quando ela estava com 12 anos. Aos 17, pouco depois de se tornar tenista profissional, rompeu com o pai e saiu de casa para morar com o namorado. O rompimento foi causado pela intenção paterna de controlar sua carreira. Esse tipo de conflito é bastante freqüente no mundo do tênis feminino. Justine e o futuro marido, Pierre-Yves Hardenne, foram morar em um apartamento sobre o açougue da família dele. Evidentemente, seu talento já era conhecido e ela pôde seguir carreira com a ajuda financeira da Federação Belga de Tênis e de alguns parentes. Justine só voltou a reencontrar o pai neste ano, quando ela foi visitar um irmão que havia sofrido um acidente de carro. O ano foi tumultuado por outro acontecimento: a separação do marido. Justine atingiu o topo do ranking pela primeira vez em 2003. Naquele ano, submeteu-se a um período de treinamento exaustivo nas mãos do preparador físico americano Pat Etcheberry – o mesmo que aprimorou o desempenho dos tenistas americanos Pete Sampras e André Agassi. "Eu tinha vontade de chorar e, depois dos treinos, não conseguia sequer descer escadas, tal a dor nas pernas", contou a tenista numa entrevista. "A estatura de Justine esconde um preparo físico impecável. Esse pode ser atestado pela maneira como ela corre de um lado para o outro da quadra", observa o preparador físico catarinense Mark Caldeira.

Neste ano, Justine descobriu que sofre de asma crônica. Ela sentiu dificuldade para respirar durante o Aberto dos Estados Unidos e decidiu ficar fora do torneio seguinte, em Pequim. A poluição da cidade chinesa poderia agravar sua asma recém-diagnosticada. Com 25 anos, Justine já atingiu uma idade madura para o tênis. Entre as dez melhores do mundo, só Serena Williams (26 anos) e Venus Williams (27) são mais velhas. Mas não falem de aposentadoria com ela. Justine já anunciou a intenção de jogar até os 30 anos. Seu treinador, o argentino Carlos Rodríguez, atribui a motivação de Justine não ao dinheiro, mas à sua personalidade forte e combativa. Sem o físico esbelto ou o rostinho bonito das russas, Henin quase não consegue aumentar seu patrimônio com as atividades extraquadra da maioria de suas colegas. A principal fonte de renda de Maria Sharapova é a publicidade. Em um ano, a russa ganha fora do tênis quase a mesma quantia que Justine conseguiu faturar com os prêmios recebidos durante toda a carreira: 19 milhões de dólares. Não significa, evidentemente, uma situação de pobreza. Na verdade, ela bateu o recorde feminino em prêmios acumulados em uma temporada. Foram 5,3 milhões de dólares neste ano. Para se ter uma idéia de como isso é um bom dinheiro no circuito profissional, o espanhol Rafael Nadal, número 2 do mundo, ganhou 4,6 milhões de dólares neste ano, apesar de o tênis masculino pagar prêmios bem maiores que os do feminino.

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